Publicado em: 15 de julho de 2019 12h07min / Atualizado em: 16 de julho de 2019 09h07min
O médico nutrólogo Eduardo Militz da Costa, palestrante do III Simpósio em Alimentação e Saúde (III SSA), antecipou alguns temas dos quais falará durante o evento. Conceitos de qualidade de vida, necessidade ou não de suplementação e a importância dos estudos científicos na área. O evento é promovido pelo grupo de Pesquisa liderado pela professora da UFFS – Campus Chapecó Margarete Bagatini.
Leia a entrevista e inscreva-se no evento.
1) Primeiro, gostaria que o sr. falasse um pouquinho da sua formação. Em geral, as pessoas têm muita dúvida do que faz um médico nutrólogo e quais as diferenças com outros profissionais da saúde.
Sou médico nutrólogo, formado em Medicina na Universidade Federal de Santa Maria, em 1999, e vim para Santa Catarina para trabalhar na saúde pública. E me chamou a atenção, desde então, a área da alimentação, a área das doenças relacionadas à alimentação e o que a alimentação poderia fazer na prevenção e também no tratamento de diversas doenças. Fui a São Paulo realizar uma pós-graduação na Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) e, depois, me submeti a uma prova de título de especialista e consegui ser aprovado. Então, além de médico da família, passei a atuar como médico nutrólogo que sou, em Chapecó e em Xaxim.
O nutrólogo é o médico dos nutrientes. Muitas pessoas ainda fazem confusão entre o nutrólogo e o nutricionista, o que faz sentido, pois ambos trabalham com alimentação. Porém, diferentemente do profissional nutricionista, o nutrólogo é um médico que fez uma especialização, se submeteu a uma residência ou uma prova para poder ser chamado de médico nutrólogo. É registrado nos conselhos regional e federal de Medicina e na Abran. O nutricionista estuda a ciência da nutrição. Ele é responsável por planejar dietas alimentares, formular cardápios equilibrados e específicos, de acordo com a necessidade do paciente. O médico nutrólogo, quando atende um paciente, tem como objetivo principal tratar os distúrbios relacionados à ingestão de nutrientes. Temos que avaliar os benefícios e os malefícios visando a promoção da saúde, combater alguma patologia identificada ou uma ação preventiva, fazendo promoção da saúde. Para uma pessoa que deseja emagrecer ou engordar, o objetivo é entender o que está acontecendo com o organismo dela.
2) O Sr. palestrará sobre “Qualidade de vida e Suplementação Alimentar”. Qual a concepção de “qualidade de vida” se tem hoje e qual a concepção de “qualidade de vida” que o sr. tem e busca aos seus pacientes?
A qualidade de vida é um conjunto de fatores individuais e socioambientais que caracteriza a condição na qual o indivíduo vive. A qualidade de vida para um homem obeso, de 30 anos e fumante, para ele, pode ser boa. Ele pode dizer que se sente bem e não tem queixa nenhuma. Porém, considerando a qualidade de vida relacionada à saúde, ele já está, sim, com alguma patologia.
Ao avaliarmos o paciente, o que percebemos: há exageros e às vezes falta de ingestão de alguns nutrientes, tanto dos macronutrientes – proteínas, gorduras e carboidratos – ou de micronutrientes – vitaminas, minerais e oligoelementos – e essa falta ou excesso implica, muitas vezes, em sinais e sintomas clínicos, inclusive patologias. A obesidade é uma doença por ingestão aumentada de calorias. No Brasil, sabemos que um percentual significativo da população tem deficiência de ingestão de minerais e vitaminas. E isso acarreta problemas, faz com que doenças crônico degenerativas apareçam mais, como diabetes, hipertensão, doenças do aparelho cardiovascular. Então nosso papel é fazer o paciente perceber essas doenças nutroneurometabólicas, como já estando no organismo, através da avaliação, dos exames laboratoriais. Muitas vezes, mesmo não estando clinicamente aparente, a doença está se desenvolvendo. A diabetes, por exemplo, não começa quando é diagnosticada, mas ela já está instalada e começou muito antes. A falência pancreática, a resistência insulínica e a obesidade causam um transtorno no organismo que acaba na concepção da diabetes. O ideal seria que todos os pacientes fizessem uma adequação nutrológica preventiva.
3) Em que medida os exercícios físicos têm importância para a qualidade de vida e para a saúde como um todo?
Hoje é sabido que a atividade física é algo muito importante, e o exercício físico, que é a atividade física programada, mais ainda. Ele vai melhorando e atenuando muitas questões inflamatórias e patológicas do organismo. Abordaremos na palestra, através de slides, como é a relação do exercício físico no nosso organismo: quais as alterações benéficas que pode provocar ou quais as situações maléficas que ele pode combater ou até mesmo diminuir. Sabemos que há exercício leve, moderado e intenso. Para cada faixa de exercício existe um risco para o organismo e é necessário que isso seja observado. Alem disso, cada pessoa tem condições de fazer alguns exercícios, e outras não, então é muito individual.
4) Para que serve a suplementação alimentar? Não conseguimos obter tudo o que precisamos pela alimentação?
Muitas vezes não conseguimos. E a suplementação já diz: colocar o que não se conseguiu com a ingesta naquele dia. Por exemplo: não conseguiu se alimentar com a quantidade suficiente de proteína naquele dia. Ou você tem uma deficiência de vitamina D e não consegue ingerir pela alimentação. Como fazer? Suplementar a vitamina D. Ou você está com anemia e, pela alimentação, não está conseguindo repor a quantidade de ferro. Aí você suplementa com ferro para voltar à homeostase em relação ao problema. Então a suplementação nada mais é que dar o aporte que está faltando. Pode ser para tratar doença, para complementar, para quem faz atividade física. Tem várias situações em que a suplementação é bem-vinda e com resultados benéficos ao organismo já demonstrados em trabalhos. Inclusive a gente vai abordar bastante isso, com vários artigos, desmistificando algumas coisas em relação à proteína, creatina. Muitas vezes as pessoas criticam, com mitos de que faz mal. Então colocaremos alguns trabalhos científicos para mostrar que, com indicação e acompanhamento profissional, a pessoa pode fazer uma suplementação boa, saudável, e que terá os benefícios encontrados em trabalhos científicos.
5) Quando e como uma pessoa deve fazer uso de suplementação alimentar?
Primeiro tem aquela questão: o tempo. Quando você tomará? Tem que haver um horário. Depois, a quantidade. Outra questão: qual o objetivo para o uso do suplemento naquela quantidade e naquela hora? Depois, entra a questão da individualidade do paciente perante aquele suplemento, se o suplemento está servindo ou não àquele paciente. E ouvir o paciente para saber o como ele está. Necessariamente o paciente precisa ter a orientação para o tratamento com um nutrólogo ou com um nutricionista.
6) Sabemos que simpósios como o III SSA são escassos na região. O Sr. acha que é importante levantar essa questão aqui?
Com certeza. Tenho a oportunidade de ir a São Paulo uma vez ao mês para estudar, me atualizar, conversar com pessoas há muito trabalhando com isso, acompanhando trabalhos, grupos nas universidades. No Oeste ainda é muito escasso, pouca ciência nessa área da alimentação. O simpósio deve continuar, porque é uma forma de trazer ao público o debate, trazer ciência, trazer trabalhos científicos, sérios, com comprovação. É isso que devemos procurar sempre: a ciência.
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
20 de dezembro de 2024
Passo Fundo
20 de dezembro de 2024
Pós-Graduação
20 de dezembro de 2024
Cerro Largo
20 de dezembro de 2024
Erechim