Publicado em: 19 de agosto de 2016 09h08min / Atualizado em: 04 de abril de 2017 11h04min
Na última quinta-feira (18) foi o encerramento do I Seminário de Pesquisa em Estudos Literários e Ensino de Literatura do curso de Letras – Português e Espanhol na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Cerro Largo. O evento, que iniciou as atividades no dia 16, contou com grande participação de discentes do curso, além de estudantes do Ensino Médio de Cerro Largo, e de docentes do campus.
Nas palavras do organizador, professor Pablo Berned, o seminário foi um excelente espaço para reflexão. “O evento foi uma ótima oportunidade de divulgar para os estudantes e para os professores os trabalhos desenvolvidos na área dos estudos literários. Dos diálogos que foram provocados nas três tardes, certamente sairão ideias para trabalhos futuros. Tenho a convicção de que o evento foi um sucesso, e já estamos pensando em uma segunda edição em breve”, comenta. Os trabalhos apresentados foram expostos por estudantes do curso de Letras do Campus, contando com a participação de uma egressa do curso, Carine Angst, e também por docentes do curso.
Na abertura Pablo discorreu sobre sua trajetória de pesquisa acadêmica envolvendo a vida e a obra de Marguerite Duras. Na segunda tarde do seminário, foi o professor Demétrio Paz quem abordou “O conto africano em sala de aula”, relatando experiência de sua trajetória enquanto professor do Ensino Básico e realizando percepções sobre como trabalhar diferenças raciais e sociais, em sala de aula. O encerramento contou com uma fala da professora Neiva Graziadei, intitulada “Literatura, história e rastros: um diálogo fecundo”, e nela a professora abordou possibilidades a mais do estudo de literatura, sempre criando pontes entre seus estudos e tudo o que foi discutido no evento.
Literatura fora das bibliotecas
Um dos grandes pontos do evento foi a participação da comunidade regional na tarde da abertura. O início dessa participação foi com a fala da escritora e idealizadora da editora Café Pequeno, de Santa Rosa, Dé Rodrigues, que apresentou os projetos realizados pela editora, além de algumas publicações. Dé chamou a atenção para os vários projetos sociais desenvolvidos pela editora, como a capacitação de jovens escritores e projetos que levam acervos bibliográficos para comunidades do interior do município.
O deslocamento das bibliotecas para as ruas foi a temática da fala de uma das criadoras da Bicicloteca Fabrica Artema, de Santa Rosa, Fabi Padilha, que destacou a quantidade de projetos culturais florescendo no município de Santa Rosa. Fabi ainda contou sobre a origem das biciclotecas, que são bibliotecas com acervo público que circulam as ruas de suas cidades. Criadas originalmente por moradores de rua, que não conseguiam chegar às bibliotecas públicas das cidades, mas tinham ganas de ler.
A história da Bicicloteca Fabrica Artema, como conta Fabi, também se originou da rua: “estava caminhando com meu companheiro e nos deparamos com alguns livros, em bom estado, jogados em uma lixeira, e pensamos em como eles poderiam chegar às pessoas que realmente tivessem interesse”, explica. Atualmente a bicicloteca participa de diversos eventos no município e mantém um sistema simples de cadastramento para retirada de livros, para facilitar o acesso de quem tem interesse pela leitura.
A cidade de Santa Rosa ainda conta com a Associação Santa-rosense de Escritores (ASES), que foi apresentada pela escritora e atual presidente, Ciça Lima, que além de mostrar diversos títulos organizados pela ASES, chamou a atenção para a possibilidade de escrever, pois “todo mundo é capacitado para escrever, mas temos de criar a cultura de mostrar nossos textos”, explica Ciça.
Produções independentes
Outro bloco dessa mesma tarde foi a oficina “Quando o artista se autorrepresenta”, conduzida pelos artistas Daniel Eizirik e João Kowacs, de Porto Alegre, que atuam no Coletivo Cultural Contorno.me e são autores do livro “Mineiros cavam no escuro”. Na conversa, os escritores frisaram a literatura independente, que eles defendem como uma literatura livre de discussões de conteúdo, “uma literatura que possa ter um posicionamento político claro, ou seja lá o que for”, comenta Daniel. Eles ainda chamam a atenção para a editoria independente: “quando perguntam qual é a editora, respondemos que somos nós”, explica Daniel.
A oficina também debateu a bilateralidade da literatura, desde os clássicos até a literatura do dia a dia. “Ler um clássico é válido, mas nosso dia é cheio de textos belíssimos”, comenta João. Ele ainda finaliza chamando a atenção para a produção: “nós vemos os clássicos e imaginamos a literatura como uma inspiração divina, mas ela é um exercício, e temos de trabalhar na nossa construção”, aconselha.
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