Publicado em: 13 de maio de 2016 09h05min / Atualizado em: 13 de maio de 2016 09h05min
Ao som do Hino Nacional Brasileiro na língua Kaingang foi dada abertura ao evento “A identidade étnica dos indígenas nos espaços acadêmicos”, realizado nesta quinta-feira (12), na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Cerro Largo. O evento, organizado pelo grupo de estudantes indígenas do Campus, teve o objetivo de debater e refletir a presença desses estudantes e a inserção e o diálogo entre as culturas e os saberes indígenas e não-indígenas nos espaços acadêmicos. No Campus Cerro Largo, há 10 estudantes indígenas (em sua maioria da etnia Kaingang) na Graduação e na Pós-Graduação. Além disso, um estudante da etnia Guarani já concluiu a Pós-Graduação Lato Sensu em Desenvolvimento Rural Sustentável e Agricultura Familiar, no ano de 2013.
Para o representante do Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN), Sandro Luckman, existe uma sabedoria dos povos indígenas que ainda não é tratada como científica dentro das universidades, o que acaba dificultando o diálogo entre os saberes nas universidades. “Essa sabedoria deve ser tratada como propriedade, como um conhecimento elaborado, que vem de um longo período, que os povos indígenas têm consolidado neste solo que hoje se constitui como Brasil. Por exemplo, concepções de fronteira: na mentalidade Kaingang as fronteiras geográficas são diferentes das do estado brasileiro, então tudo isso precisa ser tratado e considerado no ser e fazer a academia quando se fala na presença de estudantes indígenas”, argumenta.
O cacique da Terra Indígena do Inhacorá, Adilson Policena, que faz parte da Comissão de Acesso e Permanência dos Povos Indígenas do Campus Cerro Largo, afirma que não vê lugar melhor do que uma universidade para “mostrarmos nossa capacidade, nossos costumes e nossa história. Há cerca de 5 anos discutíamos aqui na UFFS a questão do acesso e da permanência de indígenas na universidade e hoje eu me sinto honrado”.
A estudante Kaingang do Mestrado em Desenvolvimento e Políticas Públicas, Laísa Arlene Sales Ribeiro, relata que tem percebido que a comunidade acadêmica está mais aberta ao diálogo e ao modo de pensar indígena e complementa: “Para nós, Kaingang, é importante estar nesse espaço porque no momento em que conseguimos fazer esse diálogo aqui fora (da aldeia), conseguimos trazer contribuições para nossas lideranças – porque nenhum de nós chegou aqui sem a autorização de nosso cacique – e nosso objetivo principal é retornar para nosso povo. Esse é o nosso compromisso. E é possível sim ser indígena, ter a nossa cultura, mas também ter a possibilidade de sair e fazer esse diálogo com a sociedade e, a partir daí, construir políticas públicas que venham ao encontro de nossas necessidades”, explica.
Além das falas, houve uma apresentação do grupo de danças Re Jur (Nascer do Sol) da Escola Estadual Indígena de Ensino Médio Kasin-Mig, de Redentora (RS). O evento é uma realização da Comissão de Acesso e Permanência Indígena e recebe apoio da Comissão de Eventos do Campus e do Conselho de Missão entre Povos Indígenas (Comin).
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