Publicado em: 26 de fevereiro de 2019 09h02min / Atualizado em: 26 de fevereiro de 2019 11h02min
Do momento em que o SiSU divulga a chamada dos nomes aprovados até o início do período das matrículas, são poucos dias de intervalo. Os candidatos devem reunir toda a documentação e chegar à Universidade a tempo de realizar a matrícula. Fica mais desafiador para aqueles que atravessam o país, impulsionados pelo sonho de fazer um curso superior em uma Federal. Eles vêm de São Paulo, Pará, Rio de Janeiro, Minas Gerais e tantos outros estados do Brasil e, em alguns casos, apenas com os documentos na mão, a mochila nas costas e um violão nos braços.
Assim foi com o estudante do curso de Agronomia Renan Matogrosso, que veio de Nova Andradina, Mato Grosso do Sul (MS) e já está há 4 anos na UFFS – Campus Cerro Largo. Ele é músico também, e é figura confirmada nos eventos que a UFFS organiza. O violão que trouxe junto já rendeu uma bolsa, o Bolsa Cultura, em que pôde ensinar outros jovens a tocar o instrumento. Empolgado com a sua história, ele conta como chegou em Cerro Largo: o aluno soube do resultado em uma terça-feira e as matrículas iam até sexta-feira. Ele estava com apenas 17 anos e havia acabado de sair do Ensino Médio, sua escola ainda não tinha emitido histórico escolar e, segundo ele, o prazo para entrega do documento era de 30 dias a partir de sua requisição. “Expliquei a situação para eles e, nunca vou esquecer, o secretário passou um dia inteiro fazendo o histórico a mão mesmo”. Na quarta-feira à tarde saíram Renan, seu pai e sua mãe em uma viagem de aproximadamente mil quilômetros, de carro, até Cerro Largo. “A gente se perdeu, entramos em muitas estradas de chão, mas conseguimos chegar aqui na quinta-feira, à noite. Só tinha uma farmácia aberta naquela hora. Nos informamos e encontramos um hotel para ficar”. No primeiro dia de aula, Renan chegou a caráter, todo vestido de cowboy. “Como cheguei um pouco atrasado, a sala inteira parou para me olhar”, conta bem-humorado. “Mas é assim que costumamos andar lá no meu estado”. Renan, hoje com 21 anos, e já vislumbrando a sua formatura, fez parte da Comissão de Acolhimento e Orientação aos Auxílios durante o processo de matrículas deste ano.
Toda essa experiência de um veterano que vem de longe, é um conforto para os calouros que também chegam na UFFS angustiados em descobrir onde morar, como fazer para almoçar no Restaurante Universitário, onde tem ponto de ônibus para chegar até o Campus, onde ficam os laboratórios, as salas de aula, como faz a carterinha da Biblioteca e tantas outras dúvidas que permeiam a vida dos calouros. “Quando eu cheguei, demorei muitos dias até entender bem como tudo funciona”, acrescenta Renan.
A Comissão é uma iniciativa dos servidores técnico-administrativos juntamente com o DCE - Representação do Campus Cerro Largo. Durante os dias das matrículas eles receberam os calouros e compartilharam informações valiosas para os primeiros dias na cidade. “Além da informações, os calouros já estão fazendo amizades e contatos, o que é tão importante nesses momentos”, opina o presidente do DCE, Rafael Guelfi. Rafael cursa Química, tem 23 anos e está há 3 na UFFS. Ele também vem de longe: São Paulo – capital. Foi mochileiro durante 4 anos e depois de percorrer lugares como San Pedro de Atacama, no Chile, Ushuaia, na Argentina, Serra da Canastra (MG), Jalapão (TO) e tantos outros, escolheu Cerro Largo como seu lar, pelo menos durante o período do seu curso. Durante as viagens, Rafael ressignificou a palavra solidariedade e hoje ela tem um peso grande em sua vida: “é bastante natural as pessoas se ajudar enquanto viajam. Sempre consegui um lugar para dormir, comida, água e todo o apoio que precisei quando estava na estrada, por meio da bondade dos outros”. Rafael carrega consigo esta lição e hoje nos ensina também: “Recebi tanta ajuda e hoje não é mais do que um dever fazer isso. O único jeito de conhecer a bondade das pessoas é viajando”. Assim, ele abriu as portas de sua casa, em Cerro Largo e abrigou alguns calouros que vieram de outras cidades e estados. “Eu nem estava em casa, mas deixei a chave com outra pessoa que abria a casa para os estudantes”, conta.
Para o técnico-administrativo Luis Carlos Rossato que esteve à frente do processo de matrículas no Campus, este ano foi diferenciado. “Houve um sentimento de solidariedade tão grande, este grupo de acolhida transformou as matrículas em um processo humanizado, acolhendo e ambientando os calouros, eu fiquei bastante emocionado com o que vi e presenciei”, relatou.
Além da Comissão, os estudantes criaram um grupo no Facebook: o SOS Calouros UFFS - Cerro Largo, que facilitava a troca de informações antes mesmo dos novos estudantes chegarem na cidade. Assim, as dificuldades que Rafael e Renan tiveram quando chegaram aqui, foi um tanto amenizada para Rodolfo Lima, por exemplo, que veio de Belém do Pará e acaba de se matricular em Engenharia Ambiental. Ele acabou sabendo do grupo no Face e, com a data da viagem marcada para o Rio Grande do Sul, entrou em contato com os estudantes e saiu de lá com a tranquilidade de já saber onde ficar. “Conheci pessoas super legais, não só fui acolhido como fiz amizades”. A dificuldade financeira também é bastante acentuada, mas os calouros já tiveram acesso ao Restaurante Universitário, pouco antes de iniciar as aulas, no valor de R$ 2,50, já estão dividindo despesas de aluguel com colegas, e além disso, os veteranos buscaram doações, nas redes sociais, de material escolar para dividir entre aqueles que estão precisando.
Ficar em uma cidade pequena?
Sim! Cerro Largo tem cerca de 14 mil pessoas, segundo IBGE de 2018. E é justamente as características de uma cidade pequena que atraíram alguns estudantes, como Rodolfo. “Venho de uma cidade bastante violenta, há mortes todos os dias, roubos e furtos. Aqui é bem tranquilo. Estou gostando muito.” Da mesma forma para Rafael que vem de uma cidade de mais de 12 milhões de pessoas: “pra mim, quanto menos gente melhor. Sempre gostei de cidades pequenas. Quando cheguei aqui, achei um paraíso, é uma cidade calma e segura. Além de que, na UFFS, os professores são bem acessíveis, temos acesso fácil aos servidores e ao que a universidade nos oferece também”, finaliza.
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