Publicado em: 22 de março de 2018 15h03min / Atualizado em: 22 de março de 2018 16h03min
“Eu sempre tive muito medo que meu marido me matasse e matasse todos os meus filhos. Ele sempre ameaçava, por isso não denunciei ele antes. Foram mais de 16 anos de sofrimento e medo. Só quando percebi que não adiantava nada eu ficar calada, porque um dia ele ia conseguir me matar mesmo se eu ficasse lá com ele, é que eu tive coragem de ir na delegacia fazer o boletim de ocorrência”. Esse é o relato de uma das 22 mulheres que procuraram atendimento em Organismos de Políticas para Mulheres (OPM) nos municípios de Santa Rosa e Santo Ângelo, em 2017. A escuta fez parte da pesquisa realizada pela mestra em Desenvolvimento e Políticas Públicas pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Cerro Largo, Andreia Justen e pela sua orientadora Louise de Lira Roedel Botelho.
O estudo apontou para uma melhoria na autoestima e confiança das mulheres após o atendimento em uma OPM, que tem por missão contribuir nas ações dos governos com vistas à promoção de igualdade de gênero por meio da formulação, coordenação e articulação de políticas para as mulheres. O objetivo foi compreender as políticas públicas para as mulheres a partir da perspectiva das mulheres atendidas. Andreia lançou a seguinte questão: em que medida as políticas públicas para as mulheres implementadas nos municípios de Santa Rosa e Santo Ângelo (RS) têm contribuído para o seu empoderamento e de que forma buscam a eliminação de todas as formas de violência contra elas?
As narrativas, segundo a pesquisadora e também servidora técnica do Campus Cerro Largo, “falam de laços familiares, de alegrias, de tristezas, subordinação, medo, dependência, violência e superação. Falam de caminhos trilhados e de caminhos a serem trilhados. Várias delas apontam para pontos em comum, como relações familiares, alcoolismo, ciclos de violência, dependência financeira e emocional, medo de fazer a denúncia e coragem para buscar ajuda e mudar de vida”, conta.
A partir dos relatos, Andreia e Louise observaram que a violência contra a mulher ainda é pouco relacionada ao contexto sociocultural de poder presente na relação homem/mulher. “Caracteriza-se, muitas vezes, como uma simples briga de marido e mulher, resultante de alcoolismo, ciúmes ou infidelidade. A forte relação de dominação é bastante mascarada pela maioria das mulheres, o que inibe a superação das condições de sofrimento e medo, dificultando a ação das políticas públicas”, informa Andreia.
Segundo a pesquisa, das 22 mulheres entrevistadas, apenas uma delas mencionou não ter sofrido nenhum tipo de violência, pois havia buscado ajuda de uma OPM para conseguir um emprego. As outras 21 participantes relataram passagens das diversas formas de violência, porém a mais citada foi a física. “Algumas mulheres passaram mais de 10 anos sob as mais diversas formas de ameaças e pressões psicológicas e, ao saírem da condição de vítimas, já nem sabiam mais como era viver em liberdade”, conta a pesquisadora.
Destas 21 mulheres, quatro continuam com os agressores, porém apenas uma delas continua em situação de violência. Uma entrevistada recebeu ameaças do irmão, que atualmente está afastado por medida protetiva, mas que ainda causa muito medo à vítima. Outra sofreu violência física e psicológica do filho, usuário de droga; e, uma terceira, sofreu perseguição e ameaças de um amigo da família, sendo que esses dois agressores encontram-se presos por descumprirem as medidas protetivas. As outras 14 mulheres saíram da relação de violência, separaram-se dos companheiros/maridos agressores e cinco delas estão em outro relacionamento.
A partir do estudo, é possível afirmar que as mulheres atendidas percebem que as ações desenvolvidas pelas políticas públicas implementadas em seu favor contribuem em grande medida para a mudança da sua condição de vida, mostrando caminhos para a recuperação da sua autoestima e sua autoconfiança. “Isso propicia o seu empoderamento, pois quando a mulher se conscientiza das suas capacidades, dá os primeiros passos para sair do ciclo de violência, da situação de subordinação, superando medos e se tornando independente”, finaliza Andreia.
Organismos de Políticas para Mulheres (OPM)
A estudante pesquisou nas seguintes OPMs: em Santo Ângelo, na Coordenadoria Municipal da Mulher, Patrulha Maria da Penha e Delegacia Especializada de Atendimento às Mulheres. Em Santa Rosa, na Assessoria de Políticas para as Mulheres, no Centro de Referência Regional de Atendimento à Mulher Dirce Grosz, na Casa Abrigo e Passagem 08 de Março, Patrulha Maria da Penha e Delegacia Especial de Atendimento à Mulher.
Serviço:
Telefones em Santo Ângelo
Coordenadoria Municipal da Mulher: (55) 3312-7400
Telefones em Santa Rosa
Assessoria de Políticas para as Mulheres:– (55) 3511-7745
Centro de Referência Regional de Atendimento à Mulher Dirce Grosz: (55) 3511-1532
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