Publicado em: 15 de agosto de 2019 15h08min / Atualizado em: 15 de agosto de 2019 17h08min
Muitos estudantes passam “perrengues” durante os quatro, cinco anos de graduação, com estudos até a madrugada, pesquisas intermináveis e nervosismo com provas, até o momento da colação de grau. Porém, (para além do que é “normal” em um curso superior) imagine-se em um lugar longe do seu país, no qual as pessoas falam um idioma totalmente diferente e com poucos conhecidos para dar suporte a suas necessidades. Por isso, a sexta-feira, 16 de agosto de 2019, é uma data histórica para um estudante, para sua família e para a UFFS como um todo: Bachelor Louis, 26 anos, será o primeiro haitiano a se formar na Instituição.
“Estou muito feliz, por meu percurso e pelas minhas conquistas. Meu curso não foi fácil, porque você chegar em um país no qual você não conhece a cultura e a língua e entrar em uma universidade onze meses depois não é fácil. Isso me exigiu muita dedicação, muita força e muita dedicação, porque tive questões econômicas, de preconceitos... Mas estou feliz não só por mim, mas por todos os haitianos que estão no Brasil passando dificuldades e tentando e pelos que seguem lá, com o sonho de estudar fora”, expressa Bachelor. E dá o recado aos haitianos: “se eu, Bachelor, posso, você também pode!”.
Para chegar ao momento de colar grau em Agronomia no Campus Chapecó, Bachelor passou por um caminho longo. Saiu de seu país aos 20 anos para realizar o sonho de se formar no Ensino Superior. Em um país onde não há oportunidade de graduação para a maioria, ele se viu com a vontade de seguir os passos do irmão mais velho e buscar um caminho em outra nação. Contrariando a vontade dos pais, ele veio ao Brasil com a promessa que voltaria com o diploma.
Chegando no Brasil, mudou-se para Chapecó quando soube da possibilidade de ingressar no curso de Agronomia pelo Programa de Acesso à Educação Superior da UFFS para Estudantes Haitianos (PROHAITI) e passou no Processo Seletivo em 2014. Entrou em um grupo de pesquisa como voluntário e, depois, recebeu bolsa por dois anos. Participou de eventos científicos, estudou, dedicou-se.
Contudo, não foi só nos estudos que Bachelor “cresceu”. Passando pelos corredores, é possível verificar o quanto o jovem tem amigos. Professores, técnicos e estudantes passam e o reconhecem. E ele faz questão de parar e conversar. Superando as relações interpessoais e crescendo em cidadania, no segundo semestre de 2019, Bachelor e outros estudantes haitianos criaram e formalizaram a ONG Help People, voltada a realizar ações – de educação, saúde, meio ambiente, cultura e agricultura – no país de origem.
E ele não pretende parar: quer seguir estudando e ser mestre. Mas, antes, está empreendendo. Com uma sócia, está plantando hortaliças típicas do Haiti, mas que não são tão comuns e tradicionais no Sul do Brasil. A ideia é comercializar os vegetais com os imigrantes de seu país que moram na região.
Assim como na trajetória, Bachelor também terá algo um tanto difícil durante a formatura: a ausência dos pais. “Mas eu agradeço que terei, ao meu lado, pessoas importantes na minha vida, que considero da família”, conclui.
Reitor da UFFS, Jaime Giolo
“Uma formatura como essa é sempre um símbolo. Ela diz mais de um conjunto de coisas que conduziram a esse ponto do que propriamente sobre aquilo que acontece ali: um estudante haitiano sendo diplomado. Isso é relevante para ele, para o país dele, para os demais haitianos no Brasil. É importante aos brasileiros perceberem que há progresso escolar, causando diferença na vida das pessoas e erguendo, diria, o padrão de entendimento da comunidade haitiana no contexto da UFFS. Mas ele é um signo no seguinte sentido: há algo importante acontecendo na UFFS, que é o programa PROHAITI, e não é de pouca envergadura, tendo inclusive o mérito de desencadear nos últimos tempos a ampliação para ser um “PRÓ IMIGRANTE”. Essa formatura tem um valor em si, mas tem um valor muito mais amplo, de afirmação institucional da Universidade como inclusiva e que tem princípios, que tem consequências. E as consequências desses princípios se dão especialmente por meio de trajetórias acadêmicas bem sucedidas.
A formatura de um haitiano significa que o PROHAITI e, na sequência, o PRÓ IMIGRANTE, propõe um itinerário acadêmico bem sucedidos para pessoas incorporadas na sociedade inicialmente apenas como trabalho braçal. E nós estamos proporcionando uma inserção como um trabalhador intelectual. Além disso estamos sinalizando que uma universidade em geral, mas uma federal em especial, precisa fomentar a integração dos segmentos sociais no sentido de uma sociedade solidária, justa, que promova as pessoas de maneira privilegiada, mais cuidada, com zelo maior dos segmentos sociais que sofrem as intempéries da marginalização econômica e que costumam vir acompanhadas do conjunto das marginalidades que a sociedade infelizmente costuma perpetuar. O sinal dessa formatura é, também, nesse sentido: de direcionar as universidades para esses grandes desafios humanitários”.
Diretor da UFFS – Campus Chapecó, Roberto Dall’Agnol
“É um momento muito importante para a UFFS – Campus Chapecó. Temos um forte sentimento de realização, pois a formatura de um acadêmico haitiano marca a consolidação de um programa verdadeiramente inclusivo e humanitário, que por certo contribuirá na melhoria da qualidade de vida dos imigrantes”.
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