Publicado em: 11 de junho de 2019 15h06min / Atualizado em: 11 de junho de 2019 17h06min
“Meditação na Atual Transição Planetária” foi o tema da palestra do monge de Tantra Yoga Dada Jinanananda na UFFS – Campus Chapecó, na sexta-feira (7). Ele esteve na Instituição pela segunda vez, a convite do Projeto de Extensão "Racionalidades Médicas e Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (LabPics)", coordenado pela professora Maria Eneida de Almeida.
Dada Jinanananda comentou, em entrevista, sobre suas reflexões e sobre aspectos do Tantra Yoga e do Neohumanismo:
- Vivemos em um mundo em constante transformação. Às vezes, ela é tão rápida que as pessoas não sabem lidar com tanta informação e tentando dar conta de tudo. Como a meditação pode contribuir com a transformação das pessoas?
Dada Jinanananda - O mundo está cada vez mais se sofisticando, e essa sofisticação não tem volta, vai ser cada vez mais. Um tempo antes, o ser humano lidava com uma, duas informações por dia, mas hoje as pessoas recebem uma quantidade de informação que antigamente ganhavam na vida inteira. Só que a capacidade de lidar com isso, a mente humana, continua a mesma coisa. O sistema educacional continua sendo do século XIX. O jeito de encarar a demanda maior é o mesmo. Que é o stress? É a mente e o corpo sendo obrigados a adaptar-se a uma mudança. O povo antigo cada vez que precisava lidar com uma demanda a mais ia com a faca, um bastão, caçava um animal ou corria e tirava o stress. Hoje, não. O humano fica em casa, com toda essa pressão, e aí as “bombinhas” de pressão começam a explodir para fora. O Tantra Yoga é algo muito maior que a meditação, mas a meditação tem esse efeito de ativar a melatonina. Com a melatonina ativada, ajuda a concentração, ajuda a baixar as frequências dos nervos, estimula o sistema nervoso parassimpático, baixa a frequência, mas acrescenta o período. Então, isso cria na mente um espaço interno para observar o que está acontecendo e pensar sobre isso antes de reagir. Quando a frequência vibracional da mente é rápida, o espaço é muito pequeno, então a pessoa reage com o sentimento. Qualquer coisa que vem, bate no sentimento da pessoa e ela reage com raiva, com medo. Com a meditação você se separa do assunto. Você aprende a ver as coisas como elas são. Você não é mais levado pelas coisas. A visão que os humanos tinham com o desenvolvimento da tecnologia era que teríamos menos tempo para o trabalho, e mais para o lazer. Mas a mente egoísta, com o desenvolvimento da tecnologia, decide: vamos desempregar as pessoas para ganhar mais.
- Estamos falando até agora, de uma questão bem particularizada, pessoal. Mas o Sr. também fala da transformação social (econômica e política, por exemplo) a partir da meditação. Fale, por favor, um pouco dessa relação e dessa possibilidade.
Dada Jinanananda - A meditação vai cultivar o sentimento do bem-estar individual, mas também do bem-estar coletivo. Para que o método da utilização dos nossos recursos atenda a todo mundo. Por que as pessoas se submetem ao stress? Porque a existência delas está em perigo. Eles precisam existir, pagar conta, mandar a criança para a escola, atender a vovozinha que está em casa. Essa luta da sociedade não será resolvida por uma mente pequena, egoísta. As mentes precisarão se expandir e ver que ao invés de competir, se trabalharmos juntos podemos ganhar mais. Essa visão da cooperação, do social, precisa voltar. Porque não tem um ser humano nesse planeta que vive só.
- Essa é a visão do Prout?
Dada Jinanananda - O Prout é visão social, econômica e política. É uma aplicação no mundo da matéria dessas visões psíquicas, espirituais do amor, do cuidado, da empatia, do próximo. Embasa a construção da sociedade não na base do lucro infinito, mas na base de atender às necessidades de todo mundo e trabalhando para que as pessoas tenham abundância. O sistema econômico hoje é um sistema em que a política é mais de escassez do que de abundância. Essa é a grande diferença. Se você pegar a economia na administração de um lar: um pai ou uma mãe querem que os filhos cresçam com saúde, educação e prosperidade. Um país tem que pensar isso para seu povo: que seja grande, próspero e feliz. Então a economia tem que ser da abundância. No campo político tem que ter liberdade: de pensar, de ir e vir, de empreender. No campo da sociedade, tem que ter uma fraternidade ampla, onde ninguém se sinta excluído. É necessário ter uma cultura que cada vez mais inspire essas visões que elevam a mente para um patamar mais bonito. O belo da arte está no centro da construção da sociedade. O Prout não se limita a mecanismos econômicos. Tem um embasamento cultural que fará um equilíbrio até onde as coisas vão.
- Já que estamos conceituando, o que é o tantra? Muitas pessoas têm uma visão um tanto limitada…
Dada Jinanananda - O Tantra é uma escola que nasce dessa mente inclusiva do ser humano. Quando o ser humano está num local e não entende o que se passa, começa a se questionar: ‘o que é isso, o que é aquilo?’. Há 15 mil anos, os seres humanos da época não entenderam o sol batendo ali em cima; que eu estou aqui agora e amanhã vou estar aqui ainda e daqui a 200 anos não vou estar. Isso é acidental ou é criação de alguma coisa? Então, basicamente esses seres entraram em uma questão existencial “quem sou, de onde vim, para onde vou, existe um Deus?” e começaram a pesquisar. E suas primeiras descobertas foram fantásticas: observando os bichos, pegando posturas e as imitando – imitando a postura da vaca ficava mais calmo; a da cobra, mais perspicaz; do pavão, a comida era digerida mais rápido. Entenderam, sem conhecer muito sobre glândulas e hormônios, que essas posturas estão tendo efeito no meu corpo e mudando minha psicologia, o que se chama efeitos biopsicológicos. Essa foi a linha toda da prática de yoga que o mundo sabe, que são as linhas das posturas de yoga feitas até hoje. Mas ele descobre algo a mais, que também foi fantástico: ouviam barulhos sem ninguém estar fazendo barulhos. Quando procuraram, entenderam que o barulho vinha deles mesmos. Aí, sete mil anos depois o Shiva sistematizou a ciência dos sons internos do corpo. A academia não tem isso hoje: a ciência dos sons das emoções humanas. O medo tem um som, a raiva tem um som, a inveja tem um som. E esses sons formam a psique humana, que nada mais é que a sinfonia desses sentidos, que a yoga chama de instintos. E o Shiva gera 50 sons que gera o alfabeto do Sânscrito. Então, a língua Sânscrita não tem escrita própria, é uma coletânea de sons. Agora podemos vir para a ciência, que tem falado disso hoje em dia: a física quântica. A ciência hoje descobriu que o que o que tínhamos como físico, matéria, não é de fato matéria. É uma mescla de ondas variáveis. Quando entramos no fundo de um átomo, encontramos que o átomo é vazio, mas um vazio muito específico, com cada pontinho desse vazio cheio de energia cósmica infinita e consciência cósmica infinita. Então, a observação material do som, ouviram, está vindo do estado mais profundo do ser, que chamamos consciência. E a ciência do Tantra tem por meta ajudar na transformação dessa onda. Temos vários níveis de onda, dos mais denso, que vemos como físico, ao mais sutil, que vemos como pura luz e consciência. Como trazer a mente humana dessa ocupação puramente material para essa ocupação puramente espiritual: a expansão dessas ondas materiais, acréscimo de frequência a tal ponto que as frequências pequenas, rápidas, começam a ser cada vez mais lentas, um período grande, até chegar no período infinito. A energia cósmica infinita na física, entendemos, que a força do infinito será uma linha reta. A representação do infinito na matemática, na física, vai ser uma linha reta. A frequência humana que vemos no eletroencefalograma, que vemos assim (num sobe e desce) terá que ser infinita. Isso é feito pela ciência que é Shiva, a ciência dos mantras. Então o Tantra é uma ciência de aperfeiçoamento humano. De transmutar ondas dessas (que sobem e descem) em ondas mais sutis – isso no indivíduo. Qualquer atividade humana terá uma frequência alta ou baixa. Dessa forma, a visão do Tantra que eu aplico em mim vai ser aplicada na sociedade, avaliando o nível de frequência vibracional. Assim que eu avalio a política, a economia.
- E do que se trata o neohumanismo?
Dada Jinanananda - É exatamente nessa linha do Tantra. Quando estudamos e vamos cada vez mais ao centro, você descobre que em tudo, a lei da casualidade nos obriga a aceitar que nada vem de nada. Se algo existe, deve haver uma matriz, que vem antes. Observamos muito a capacidade intelectual, amorosa, afetiva. Isso tem base, e a base dele é justamente o estado de consciência. No Tantra, a visão que temos é que o universo inteiro nasce dessa base amorosa, do amor universal, da consciência infinita. Então, qualquer coisa que exista nesse universo pela lei da casualidade vai ter consciência dentro, vai ter essa luz dentro. O neuhumanismo aceita esse fato: que todos têm o som na essência e essa luz infinita, portanto todos têm direito à vida, todos têm direito ao cuidado, independente se forem humanos, animais, plantas ou minerais. A única dificuldade é que os humanos têm que sobreviver e para isso têm que se alimentar. Aí que o pensamento neohumanista vai analisar como minimizar o sofrimento e maximizar o rendimento. Hoje se fala muito em meio ambiente, porque tivemos uma filosofia de que o ser humano é a coisa mais importante desse universo, superior a tudo. Aliás, algumas religiões colocaram que o ser humano tinha direito de usar tudo aquilo da forma que quisesse. Mas não é bem assim. Então o neohumanismo não é extremo, mas vai ter esse cuidado: qual é a utilização mais apropriada das coisas, qual o valor que damos às pessoas? Ele é um ser divino, por isso mesmo merece todo cuidado, todo carinho e toda atenção que a sociedade pode dar a ele. Isso é o neohumanismo.
- Temos uma tarefa árdua pela frente. Diante disso, podemos ter esperança de um mundo melhor?
Dada Jinanananda - Com certeza. Meu mestre Prabhat Ranjan Sarkar dizia que era um otimista incorrigível. Por quê? Porque ele sabia que o intelecto humano inspirado pela consciência vai resolver todos os problemas. Mas o problema que precisamos resolver é que temos que ter mais pessoas fazendo esse processo introspectivo, para que elas comecem a pensa por dentro, para que os efeitos externos sejam cada vez mais positivos. Alguém pode achar que isso é muito idealista. Na verdade não é. A verdade simples é que todo ser humano age mais de acordo com o que creem do que pensam. Há um cientista que disse – não lembro se foi Einstein – que o ‘mundo está do tamanho do seu conhecimento’. Quando falo de conhecimento, o conhecimento máximo é o conhecimento de si mesmo, de seu núcleo interno. Inspirado por isso, o humano vai fazer muito progresso. E já está acontecendo na sociedade. Muitas pessoas ainda ficam no dualismo capitalismo e comunismo. Eles não entenderam que são dois lados da mesma moeda. O capitalismo foi financiado pelos capitalistas, o comunismo também foi financiado pelos capitalistas para jogar: não gosta do capitalismo? Vai para o socialismo. E vice-versa. Mas tanto um como o outro, vimos nos últimos 70 anos, não dá certo. O que tínhamos que voltar é para a necessidade de valorizar a vida humana, de respeitar o meio ambiente. Nós somos habitantes do planeta, então temos interesse em manter nossa casa limpa e saudável. E os animais são necessários porque limpam, adubam, levam sementes e outras coisas que nem sabemos. O ecossistema é algo muito equilibrado, não podemos ficar mexendo com ele de qualquer forma porque queremos ganhar algum dinheiro a mais. Por isso o Prout entra para ver a utilização desses recursos para garantir o crescimento humano, mas também a preservação do meio ambiente para essa geração e as futuras. Não somos os últimos a viver aqui, não podemos viver sem essa consciência. Essa é a revolução do Prout, a revolução da mudança de consciência. Aí sim, poderemos ser realmente independentes. O meu mestre dizia INdependente, que significa dependendo de dentro: “in”, dentro. Qualquer coisa que você faça, que qualquer um faça, que seja de acordo com o que crê dentro, que sente, que acredita. Agora, não podemos ser muito orgulhosos achando que sabemos tudo. Sempre temos espaço de crescer e aprender mais. Então, o que creio e sinto, vou tentar verificar se é uma verdade. Se não é, precisarei mudar meus paradigmas. O momento é disso, da mudança de paradigmas. Com certeza o mundo vai ser muito lindo, com as crianças que estão nascendo e com os mais de idade que têm essa força intelectual e amorosa, de pesquisar e investigar, de estar sempre animados pelo bem-estar coletivo, achar cada vez mais o melhor para a sociedade humana.
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