Publicado em: 18 de março de 2020 12h03min / Atualizado em: 18 de março de 2020 13h03min
Quarta fase, início de uma longa jornada de estudos. Os comentários de um veterano despertam a vontade de pesquisar em uma jovem caloura. Ela convida outra colega, que aceita o desafio, e uma professora embarca naquele anseio. O resultado? Muito trabalho e um artigo publicado em uma revista internacional de alto impacto, Qualis A (Capes), a Purinergic Signalling.
Parece demais para ser verdade. Mas foi exatamente isso que aconteceu (resumidamente) com Maria Luiza Mukai Franciosi e Marta Pfaffenzeller, estudantes de Medicina. Elas pesquisaram fizeram uma revisão de literatura sobre o sistema purinérgico no câncer de colo uterino.
Orientadas pela professora Andréia Machado Cardoso, elas começaram logo na primeira fase do curso. Mesmo com as limitações de escrever em uma linguagem nova – a científica –, elas pesquisaram, se dedicaram e deram conta do primeiro desafio: a escrita de um capítulo de livro.
Na editora, a obra é organizada pela professora Andréia e pelos também professores da UFFS – Campus Chapecó, Leandro Manfredi e Sarah Maciel. “O primeiro desafio delas foi o capítulo do livro, em português, que ficou muito bom. E disse que elas teriam potencial para publicar em uma revista internacional”, conta a professora.
E assim foi: a professora propôs que as estudantes melhorassem o capítulo. Mesmo estando “muito bom” em sua avaliação, elas revisaram o material. Depois, enviaram-no para a revista que é referência na área, no fim de 2019. “Sinceramente falando, eu não tinha tantas expectativas de que seria aceito para publicação. Não porque não estivesse bom – estava muito bom – mas porque a revista é absurdamente exigente”, explica a professora.
O retorno foi em janeiro. O pedido de muitas alterações e melhorias fez com que elas trabalhassem no artigo durante as férias. Escrito em inglês e praticamente todo refeito, o material foi enviado à revista, que retornou com o aceite em fevereiro.
A professora, que é orientadora em programas de pós-graduação em outras instituições, comenta que, pela experiência que tem, a publicação foi rara. “É uma publicação que muitas vezes no mestrado não se consegue, só se consegue publicar em uma revista de tão alto impacto científico lá no doutorado. E as meninas que estão no início da graduação fizeram isso. Então, isso é o brilho do trabalho: ter sido feito pelas meninas, que são tão jovens, que estão no início da graduação e tiveram toda uma responsabilidade, uma competência para ter esse trabalho excelentemente publicado. Isso fortalece, também, nosso Programa de Pós-Graduação em Ciências Biomédicas (da UFFS, recém-aprovado pela Capes), que está começando e sabemos que precisa de publicações”, frisa a professora.
Marta comenta que houve desafios em todos os momentos. Para o início do trabalho, os conteúdos estavam em vários artigos diferentes. Em alguns casos, os resultados eram, inclusive, conflitantes entre si. Maria revela que sentiu o desafio ainda antes: “começar na pesquisa, aprender a pesquisar. Foi desafiador desde o início”, destaca.
Apesar das dificuldades, a professora não deixa de salientar todo o esforço, a competência e o empenho das duas. “Não tive trabalho em orientá-las, elas fizeram tudo sozinhas. Quando o trabalho chegava para eu revisar ou corrigir sempre estava muito bom, eram detalhes que precisavam melhorar. Desde a construção de figuras complexas, tudo é um trabalho delas – é algo que me orgulho muito em dizer”, ressalta Andréia.
Sequência do projeto
Depois dessa revisão bibliográfica completa e complexa – com buscas em todas as bases científicas existentes a respeito do assunto -, Marta e Maria Luiza fazem parte do grupo que está realizando a parte prática do projeto.
Já institucionalizado e aprovado pelo Comitê de Ética, o trabalho agora consiste contatar pacientes com câncer de colo uterino, coletar informações e uma amostra de sangue.
Esses contatos estão sendo possíveis com a contribuição da professora Adriana Wagner, que também é ginecologista e, agora, colaboradora oficial do projeto. Ela repassa os contatos das pacientes e os estudantes realizam as ligações e explicam a respeito da pesquisa.
As pacientes que aceitam vão até a Clínica da Mulher, que também é parceira. Lá, há outra conversa e a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Depois, elas cedem algumas informações e uma coleta de sangue.
Depois, os estudantes levam as amostras aos laboratórios e fazem o processamento desse sangue (separam os componentes sanguíneos: linfócitos, plaquetas, sangue total, soro e plasma). A ideia é futuramente estudar, em cada componente, o que acontece no sistema purinérgico, e, futuramente, fazer as análises detalhadas para entender a relação entre o sistema purinérgico e o desenvolvimento do câncer de colo uterino.
“Já existem ensaios clínicos usando drogas que agem no sistema purinérgico que podem ajudar no tratamento de tumores. No câncer de colo uterino ainda não há desenvolvimento de fármacos ou testes desses fármacos. Nossa pesquisa visa entender o que está acontecendo naquele tumor, se e o quanto o sistema purinérgico está envolvido, o quanto essas moléculas do sistema purinérgico podem estar ajudando ou inibindo o crescimento tumoral. Se encontrarmos resultados promissores, que é o que a gente espera, aí partiremos para o planejamento de testes de possíveis fármacos (ou moléculas) que possam ajudar no tratamento”, explica a professora.
Além de Marta e Maria Luiza, participam do projeto os estudantes Paulo Filipe Pereira, Anne Liss Weiler, Millena Daher Medeiros Lima, Angelica de Almeida e
Daciele Paola Preci.
(Entrevistas e fotos feitas antes da determinação de isolamento em função do novo Coronavírus. Proteja-se!)
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
27 de novembro de 2024
Informe UFFS
25 de novembro de 2024
Eventos