Professor da UFFS – Campus Chapecó coordena pesquisa sobre toxicidade de agrotóxicos e mudanças climáticas
Resultados apontam para riscos pouco estudados até então sobre a mudança climática e como isso pode influenciar no solo brasileiro

Publicado em: 22 de outubro de 2020 12h10min / Atualizado em: 22 de outubro de 2020 13h10min

Três artigos em revistas internacionais e várias outras possibilidades de estudos. Esses são alguns dos resultados de um projeto de pesquisa multi-institucional coordenado pelo professor da UFFS – Campus Chapecó Paulo Roger Alves. O assunto é bastante discutido e atual: os efeitos das mudanças climáticas sobre o potencial tóxico dos agrotóxicos em solos brasileiros.

O projeto, financiado pelo CNPq, é uma das primeiras iniciativas nacionais para estudar os efeitos combinados das mudanças no clima e o risco de agrotóxicos. O estudo teve a em parceria com pesquisadores da UDESC, USP/ESALQ e Universidade de Coimbra (Portugal), envolvendo ainda estudantes de pós-graduação e graduação das universidades (veja, abaixo, a equipe).

A pesquisa buscou compreender se o aumento da temperatura atmosférica e a redução da umidade do solo alteram a toxicidade de agrotóxicos para organismos da fauna do solo (minhocas e colêmbolos). Também visou obter dados relevantes (valores de risco) sobre a toxicidade de agrotóxicos para as espécies Eisenia andrei (minhocas) e Folsomia candida (colêmbolos) em solos tropicais brasileiros.

Conforme o professor, em geral, em estudos similares é usado um solo padronizado, artificial, que não traz as características reais dos vários tipos de solo do Brasil. Na pesquisa que liderou, o grupo utilizou dois solos dentre os muitos que existem no país (são 13 classes de solos, com uma grande variedade em cada uma delas).

Quanto às referências para afirmar que há uma mudança climática em curso, os pesquisadores utilizaram as informações a respeito do aumento da temperatura atmosférica do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). Também tiveram como base artigos científicos nacionais e internacionais sobre as mudanças nos regimes de chuvas.

Resultados

“Os resultados trazem um alerta para a comunidade sobre os atuais e futuros riscos dos agrotóxicos nos solos do Brasil”, destaca o professor. Ele ressalta três resultados importantes da pesquisa, que, pela relevância, foram publicados em revistas científicas internacionais.

1) Verificação de que a toxicidade do inseticida imidacloprido pode variar significativamente entre os tipos de solos tropicais brasileiros. O uso do imidacloprido em solos predominantemente arenosos pode representar, conforme a pesquisa, um risco ainda mais acentuado aos organismos que vivem no solo.

Os detalhes desse resultado estão publicados no artigo "Toxicity of imidacloprid to the earthworm Eisenia andrei and collembolan Folsomia candida in three contrasting tropical soils", na revista Journal of Soils and Sediments.

2) Verificação de que a redução da umidade do solo (devido às reduções nos padrões de chuvas, frente às mudanças no clima) pode influenciar na toxicidade do inseticida imidacloprido para colêmbolos, e que esse efeito varia entre os tipos de solo brasileiros


De forma geral, a toxicidade em solo arenoso é pouco influenciada pela umidade do solo, entretanto, em solo predominantemente argiloso (que representa grande parte do território nacional), os resultados indicaram que a condição de seca pode aumentar significativamente a toxicidade do agrotóxico para a espécie F. candida.

O resultado foi publicado no artigo "Toxicity of imidacloprid to collembolans in two tropical soils under different soil moisture", na revista Journal of Environmental Quality.

3) No terceiro resultado (e considerado o mais relevante), verificou-se que, com o aumento da temperatura atmosférica (que vem acontecendo em decorrência do aquecimento global), há também o aumento da toxicidade e do risco de agrotóxico utilizado no tratamento químico de sementes agrícolas para espécies da fauna do solo.

Além disso, constatou-se que esse efeito da temperatura na toxicidade/risco pode variar de acordo com o tipo de solo brasileiro em que as espécies são expostas. Esse resultado foi apresentado no artigo "Effect of temperature on the toxicity of imidacloprid to Eisenia andrei and Folsomia candida in tropical soils", publicado na revista Environmental Pollution.

“De forma geral, fica um alerta para a comunidade não científica para mais um problema que as mudanças climáticas podem trazer. Além disso, chama-se a atenção para os problemas causados pelo uso dos agrotóxicos na agricultura, que poderão ser ainda maiores no futuro”, finaliza o professor.

Os autores das publicações são:

Aline Schiehl (estudante de graduação - UFFS)

Adriano Junior Dalpasquale (estudante de graduação - UFFS)

Dr. Dilmar Baretta (professor - UDESC)

Dra. Elke J. B. N. Cardoso (professora - USP/ESALQ)

Me. Felipe Ogliari Bandeira (estudante de pós-graduação - UDESC)

Dr. Paulo Roger Lopes Alves (professor - UFFS)

Tânia Toniolo (estudante de graduação - UFFS)

Dr. Tiago Natal-da-Luz (pesquisador - Universidade de Coimbra)

Thuanne Braúlio Hennig (estudante de pós-graduação - UDESC)