Professores organizam livro com estudos da história das práticas de escrita e da história intelectual
“Cultura escrita no Sul do Brasil estudos de história intelectual e das correspondências” será lançado no dia 28

Publicado em: 17 de junho de 2021 16h06min / Atualizado em: 17 de junho de 2021 16h06min

Dois professores da UFFS – Campus Chapecó são os organizadores da obra “Cultura escrita no Sul do Brasil estudos de história intelectual e das correspondências” (Editora Argos), que será lançada na segunda-feira (28), a partir das 19h, on-line.

O lançamento terá a participação dos professores organizadores, Fernando Vojniak e Ricardo Machado (UFFS), das autoras Paula Marisa Simon, Isabel Schpuis Wendling, Thalia Fahler, Débora Clasen de Paula e dos autores Eduardo S. Neumann, Thiago Cinti Bassoni Santana, Jael dos Santos, além da coordenadora da editora Argos (Unochapecó), Rosane Natalina Meneghetti Silveira. A mediação do debate será de Fernando Boppré.

O livro tem a contribuição de pesquisadores de diferentes instituições, inclusive de egressos do curso de História da UFFS – Campus Chapecó, que estão em mestrados (veja, abaixo, os autores e capítulo).

Conforme o professor Ricardo, ele e o professor Fernando têm a história das práticas de escrita (que tem como referência o pensador francês Roger Chartier) e da história intelectual como um dos temas de pesquisa. Eles chegaram a fazer projetos de pesquisa sobre o tema, inclusive.

Porém, as análises vão muito além do que as cartas trazem nas palavras: o tipo do papel, o conteúdo escrito por crianças e mulheres, funcionários, sócios e colonos. No caso dos indígenas, inclusive como a escrita chega a esses povos.

Na UFFS – Campus Chapecó, esse trabalho dos professores se intensificou quando, em 2014, levaram uma turma de primeira fase do curso ao CEOM. Naquele momento, a ideia era  promover reflexões sobre a escrita, os arquivos e avaliar possibilidades de pesquisas na região.

“Lá descobri que estava chegando um arquivo da família Bertaso, que estava sendo organizado, e logo já fizemos um projeto de Iniciação Científica e começamos a mexer com esse acervo. Nos dedicamos mais às cartas pessoais, mas o acervo tem muita documentação sobre a empresa, por exemplo. Aí, eu e o Fernando fizemos um texto que é uma reflexão sobre o próprio arquivo, porque afinal de contas a história da elite não é só uma história do poder econômico, mas também de uma narrativa sobre o passado”, relata o professor Ricardo.

Ele segue comentando que essa narrativa se consolida, na maioria das vezes, pelo estabelecimento de arquivos, de museificação, de homenagens em lugares públicos e de memória a essas pessoas. “E também, esse acervo foi tombado pelo poder público: ele tem uma historicidade que a gente reflete paralelamente à história da família”, comenta o professor Ricardo.

O material sobre a família Bertaso rendeu o texto que compõe um dos capítulos do livro. Os professores convidaram outros pesquisadores que já conheciam e que trabalham com essas linhas de pesquisa. Segundo o professor Ricardo, o livro não tem a pretensão de abranger a todas essas pesquisas, ele apresenta algumas pesquisas relacionadas. Porém, com o material que “sobrou”, os organizadores já pensam em fazer um volume 2.

“Esse é um campo ainda pouco explorado, apesar de haver um trabalho consolidado de pesquisa há décadas a respeito da Fronteira Sul – e nossa universidade tem um papel importante nessa consolidação -, esse campo de pensar a história intelectual e as práticas de escrita ainda era pouco explorado na região, e por isso esse será um estudo de referência para essas disciplinas. No nosso entendimento, é também uma conexão com a Teoria e Metodologia da História”. Além de divulgar a produção, o livro traz a articulação com outras instituições e com acervos  da região, como o CEOM, “que é tão importante para a pesquisa aqui na região”, explica o professor.

O livro teve apoio de edital municipal de linguagens. Por esse motivo, foi realizada, também, uma oficina sobre o tema, em 2020. Os professores abordaram como trabalhar com esse tipo de documentação – procedimentos e debates metodológicos, além da dimensão material das cartas, como o tipo de papel, onde era possível conseguir, os  instrumentos de escrita, o que representava enviar uma carta na relação com os Correiros. “É uma forma de comunicação particular que tem historicidade, então também refletimos nesses termos, e não somente o conteúdo da carta”, finaliza ele.


Capítulos do livro:

Para uma história da cultura escrita na fronteira sul: considerações sobre a escrita e seus usos políticos entre os kaingang, por Fernando Vojniak

Escrevendo depois dos jesuítas: novas funções da escrita indígena nas reduções (século XVIII), por Eduardo S. Neumann

O arquivo de documentos e correspondências das empresas e da família Bertaso, por Ricardo Machado e Fernando Vojniak

A carta como uma lição de redação, o pacto epistolar como informe educacional: uma análise das correspondências de Elza Bertaso (1915), por Paula Marisa Simon

Escritas escolarizadas e subversão: a escrita de si entre o controle institucional e a subjetivação, por Fernando Vojniak e Isabel Schpuis Wendling

História da cultura escrita e da carta: possibilidades de escrever o que não se fala, por Ricardo Machado e Thalia Fahler

Cultura escrita e história intelectual: Vicente Morelatto e o poema do linchamento de 1950 em Chapecó, por Thiago Cinti Bassoni Santana

“Nossos trabalhos em Palmas”: narrativas sobre evangelizar e sofrer (1936-1945), por Jael dos Santos

Correspondências fronteiriças, federalistas e familiares: o acervo epistolar dos Antunes Maciel, por Débora Clasen de Paula