Publicado em: 28 de janeiro de 2020 08h01min / Atualizado em: 26 de fevereiro de 2021 10h02min
Dos 172 acadêmicos indígenas da UFFS – Campus Erechim, 129 estão vinculados ao curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo: Ciências da Natureza. Esse dado revela uma das várias peculiaridades dessa Licenciatura, que tem por objetivo a formação de professores para atuar, preferencialmente, em escolas do campo, bem como em outros espaços educativos escolares e não escolares. No último semestre de 2019, como trabalho final da disciplina Seminário Integrador I, a turma da 1ª fase produziu um vídeo abordando a relação dos acadêmicos com o curso. O pequeno documentário apresenta um recorte de como esta opção formativa está estruturada na UFFS e, também, oferece uma visão sobre a presença dos indígenas nos bancos universitários.
Os alunos gravaram as imagens com o celular, registrando momentos do cotidiano das comunidades indígenas, principalmente na região de abrangência da UFFS – Campus Erechim. Há também depoimentos dos acadêmicos falando sobre a experiência de ingresso na Universidade e o que isso significa para cada um, seja o aluno indígena ou não.
Depoimentos dos acadêmicos relatando suas experiências na Universidade constituem parte do documentário
O vídeo foi produzido para a disciplina Seminário Integrador I, ministrada pela professora Solange Todero Von Oncay. “Esse componente curricular tem por objetivo discutir a respeito dos sujeitos do campo, sua formação, seu contexto e organização social", explica a docente. "Como forma de aproximar as aulas das práticas sociais, valorizando a cultura e o modo de vida das comunidades, surgiu a ideia de pequenas gravações, permitindo que os estudantes estabelecessem um vínculo entre o estudo e suas vivências, reconhecendo-se nas mesmas e sendo sujeitos nessa construção”.
Os acadêmicos participaram do projeto desde o momento de sua concepção. “A ideia era desenvolver um material simples, porém capaz de mostrar que determinadas tecnologias podem auxiliar na construção de nossas aulas e no empoderamento de nossos sujeitos”, pontua Solange. “Vários são os fatores que motivaram a construção do vídeo, desde os trechos gravados previamente pelos estudantes, que traziam um conteúdo muito significativo, até os depoimentos que iam expressando a proposta do curso, levando à compreensão do regime de alternância”, diz a professora, referindo-se à forma que o curso está estruturado.
A Licenciatura em Educação do Campo: Ciências da Natureza está organizada em dois tempos que se complementam: Tempo Comunidade e Tempo Universidade. As disciplinas foram pensadas para que os estudantes exercitem e experimentem diferentes intervenções no local de origem (Tempo Comunidade), ressignificando-as no Tempo Universidade e permitindo uma efetiva aproximação entre o ambiente educativo, as práticas docentes e os saberes locais.
Conforme a professora Solange, o vídeo que os acadêmicos produziram também se relaciona com o curso em virtude da valorização da linguagem oral. “Nosso objetivo, mais a longo prazo, é de encontrar formas metodológicas de valorizar o conhecimento presente na linguagem oral e de avançar em métodos de registro e de pesquisa, integrando conhecimentos presentes na cultura indígena em diálogo com o conhecimento acadêmico”, diz.
Para o trabalho, acadêmicos uniram forças e contribuíram com diferentes etapas do vídeo
Outras turmas e professores do curso contribuíram com a produção. O conteúdo da disciplina Produção Textual, ministrada pelo professor Anderson Goulart, também foi válido: nas aulas, os acadêmicos estavam trabalhando com textos da escritora Sônia Kramer, que abordam a representação e as histórias de vida de professores. Os acadêmicos Rafael Muller e Vanessa Trentin Zoraski, do curso de Licenciatura em Pedagogia, também contribuíram de forma voluntária.
Para sanar dificuldades na gravação, foi ofertada uma oficina de produção de fotos e vídeos, porém, a capacitação aconteceu quando o vídeo já estava em fase de acabamento. “Pretendemos dar sequência nos próximos semestres, no estilo dos vídeos sem edição, incentivando seu uso e tornando mais um recurso pedagógico acessível”, explica a professora Solange.
A docente analisa que a produção possibilitou uma integração maior entre os acadêmicos, auxiliando em uma melhor compreensão da proposta do curso, da Educação do Campo e na relação com a comunidade, valorizando a prática social das comunidades indígenas, seus conhecimentos e cultura. Os estudantes apresentaram o trabalho no dia 8 de dezembro durante o Seminário Integrador, momento que ocorre nos finais de semestre, quando todos os acadêmicos se reúnem para expor seus trabalhos e partilhar seus conhecimentos com os professores e demais estudantes.
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