Publicado em: 15 de outubro de 2012 13h10min / Atualizado em: 05 de janeiro de 2017 11h01min
Com a contribuição de 14 pesquisadores espalhados por vários países da América Latina, foi lançado no mês de setembro deste ano, em Buenos Aires, Argentina, o livro Sociabilidades Emergentes y Movilizaciones Sociales em América Latina. O coordenador do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim, Cassio Cunha Soares, é um dos coordenadores do trabalho (o qual assina como Cassio Brancaleone), juntamente com o cubano Armando Chaguaceda, que atualmente reside na cidade de Xalapa, México.
A obra reúne artigos produzidos por integrantes do Grupo de Trabalho Anticapitalismos e Sociabilidades Emergentes, vinculado ao Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso), do qual Soares e Chaguaceda são coordenadores. Além do livro impresso, seguindo a política do Conselho, a obra também está disponível para que qualquer pessoa possa acessar por meio da internet, na biblioteca virtual do Clacso. O livro foi lançado em espanhol, mas conta com artigos também em português.
Articulação
Soares explica que o Grupo de Trabalho (GT) Anticapitalismos e Sociabilidades Emergentes foi aprovado no interior do Clacso em 2010. “Nós já realizamos dois encontros internacionais, um em Manágua, na Nicarágua, e outro em Guararema, São Paulo, na Escola Nacional Florestan Fernandes do MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra]”, afirma.
Segundo ele, o grupo se caracteriza por tentar fazer uma interface entre a investigação acadêmica e o ativismo político. “Boa parte dos membros do Grupo de Trabalho são professores, pesquisadores, acadêmicos, mas que tem uma inserção em movimentos sociais, coletivos culturais, em movimentos da sociedade civil”, afirma. O professor explica que trata-se de uma perspectiva de produção de conhecimento na interseção da investigação com o ativismo, em contraponto a visões que pressupõe que a produção de conhecimento deve se dar afastada da sociedade, não se misturar com as lutas sociais e políticas.
“A ciência faz parte desse processo, porque o cientista social também comunga de valores, a diferença, é claro, é colocar de forma visível os valores que estão por trás da nossa perspectiva. Os nossos valores são anticapitalistas e a gente não esconde isso de ninguém”, pondera.
Para ilustrar as atividades dos pesquisadores envolvidos, ele explica que a proposta é seguir a perspectiva de tentar entender, ou rastrear e mapear, um conjunto de fenômenos sociais, de formas de relacionamento dentro e fora das organizações da sociedade civil, que apontam para a organização de um padrão de vida social identificado como anticapitalista.
“São formas de vivenciar o coletivo que colocam um obstáculo para a reprodução das relações sociais típicas do capitalismo. Se é possível reordenar relações sociais onde os seres humanos possam, ao invés de explorar, cooperar para produzir em comum, isso não é capitalismo”, afirma.
Novas perspectivas
Soares destaca que este primeiro livro ainda é, em grande parte, uma coletânea da produção acadêmica dos pesquisadores que integram o GT, as quais convergem para esse tema. A intenção é lançar um segundo livro a partir das pesquisas que os mesmos passaram a desenvolver depois da criação do grupo. “Estamos discutindo muito que tipo de metodologia está por trás do trabalho que realizamos, o primeiro movimento de conceituação dessa atividade foi pensar que fazemos um tipo de investigação militante, ou seja, pegamos temas que são importantes para os movimentos sociais, para o processo de mudança social e política, tentamos trabalhar esses temas e disponibilizar o resultado disso para a sociedade civil, para os movimentos sociais”, argumenta.
Ele diz que, a partir desse elemento inicial de conceituação surgiu uma série de questionamentos sobre outras possibilidades de fazer pesquisa social com os movimentos sociais. “Estamos estudando uma modalidade metodológica de pensar/executar as pesquisas que possa ser feita não só como resultado do trabalho do pesquisador, mas que possa ser feita em colaboração/co-gestão com os movimentos”, declara.
Gpase
O professor explica que, em função da inserção no grupo do Clacso, foi criado na UFFS o Grupo de Pesquisa Anticapitalismos e Sociabilidades Emergentes (Gpase). “O Gpase foi criado, em grande medida, influenciado por essa agenda de pesquisa, essa forma de produzir investigação que foi proposta pelo GT do Clacso. Então a gente pode considerar o Gpase como um Núcleo de Pesquisa que colabora com o GT, nessa perspectiva de rede”, comenta. O Gpase tem integrantes de várias universidades brasileiras e de diferentes áreas do conhecimento. “É pesquisa social, mas transdisciplinar, dialoga com várias áreas”, pondera.
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