Campus Erechim oferecerá primeiro curso de Agronomia pelo Pronera/Incra no Brasil

Publicado em: 12 de fevereiro de 2014 12h02min / Atualizado em: 09 de janeiro de 2017 07h01min

Um curso de Agronomia oferecido em regime de alternância, em um assentamento da Reforma Agrária e com tempos educativos que vão além dos tradicionais. É essa a proposta do Curso de Graduação em Agronomia - Bacharelado (Pronera), que será oferecido pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim junto ao Instituto Educar, de Pontão/RS. O curso conta com financiamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) via edital do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), na ordem de aproximadamente R$ 1,6 milhão.

As 55 vagas oferecidas terão um sistema de ingresso especial, que levará em consideração, além da política de reserva de vagas da UFFS, as regras do Pronera, que direciona sua atuação para um público que tem relação com a Reforma Agrária, especificamente assentados ou seus dependentes. A equipe de implantação do curso, depois da criação e autorização de funcionamento aprovada pelo Conselho Universitário na semana passada, trabalha na elaboração do edital do processo seletivo, o qual deverá ser publicado em breve.

A graduação terá duração de cinco anos, com a participação de professores da UFFS – Campus Erechim e de outras instituições federais. Esse será o primeiro curso de Agronomia oferecido por meio do Pronera/Incra no Brasil e a segunda experiência do Campus Erechim com o Programa. No ano passado a Universidade iniciou uma turma do curso de História pelo Pronera/Incra, em parceria com o Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária (Iterra), com sede em Veranópolis/RS.

Para o responsável pela articulação do projeto do curso, professor da UFFS – Campus Erechim, Ulisses Pereira de Mello, a expectativa é possibilitar novas experiências pedagógicas, que possam ser avaliadas e servir como base para futuras pesquisas. Além disso, ele afirma que a ação desmistifica a perspectiva recorrente de que não é possível fazer um curso de Agronomia em regime de alternância.

Alternância, internato e “tempo-trabalho”

Conforme o coordenador pedagógico do Instituto Educar, engenheiro agrônomo especialista em Educação do Campo, Jeferson Boeira da Silva, a grade curricular do curso será composta, basicamente, pelos mesmos componentes do curso de Agronomia já implantado na UFFS – Campus Erechim. A diferença estará em três aspectos: o regime de alternância entre o tempo-escola e o tempo-comunidade, o sistema de internato e os tempos educativos diferenciados.

A proposta do curso prevê que os estudantes permaneçam cerca de 80 dias, em dois períodos anuais, no Instituto Educar, onde serão ministradas as aulas. Durante o tempo-comunidade os estudantes terão uma série de atividades para desenvolver em seus assentamentos de origem, proporcionando aproximação com as realidades locais e alternativas de desenvolvimento.

No tempo-escola os estudantes ficarão em regime de internato. Conforme Boeira, isso permite uma formação ampla, que passa desde pela convivência coletiva até pela prática de atividades voltadas a sua futura profissão. “Há uma série de momentos do internato que exigem e desenvolvem no educando a capacidade de coordenar e ser coordenado, além do exercício permanente da cooperação”, afirma.

Outro aspecto particular do curso são os tempos educativos diferenciados. “A formação do agrônomo não se dá apenas pelas disciplinas ou componentes curriculares em sala de aula e, como exemplo disso, no nosso projeto pedagógico nós temos o chamado tempo-leitura, o tempo-trabalho, entre outros”, diz Boeira.

O Instituto Educar funciona no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, na antiga Fazenda Annoni, em Pontão/RS e já possui experiências de formação de técnicos em Agropecuária, com ênfase em Agroecologia, em uma parceria com o Instituto Federal do Rio Grande do Sul – Campus Sertão. A escola funciona em um sistema de cogestão, em que são os próprios estudantes que cuidam da organização e limpeza das dependências, além dos setores produtivos, como apiário, gado de leite, horta, onde são produzidos alimentos orgânicos usados nas refeições da escola.

Para o engenheiro agrônomo, a parceria da UFFS representa uma reafirmação dos valores que a constituíram desde o início no que tange à aproximação com os movimentos sociais, especialmente do campo.