Publicado em: 23 de outubro de 2012 12h10min / Atualizado em: 05 de janeiro de 2017 11h01min
“Não há dúvida que com o tempo a gente aprende”. É com essa frase que a estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim, Fernanda May, abre o texto publicado no livro “Há uma universidade no meio do caminho”. A obra, que já foi distribuída para as bibliotecas da UFFS e em breve deve chegar até as escolas públicas da região, reúne memoriais formativos escritos por estudantes da universidade, bolsistas do Programa de Educação Tutorial (PET)/Conexões de Saberes, além de contribuições de professores envolvidos com as atividades do Grupo Práxis, como é denominado o grupo do PET/Conexões de Saberes no Campus Erechim.
O lançamento oficial do livro está previsto para acontecer em novembro, durante a Semana do Livro de Erechim. Na apresentação, o organizador da obra e tutor do grupo, professor Thiago Ingrassia, resume a intencionalidade do processo de produção do material: “promover o debate da educação popular na universidade a partir das trajetórias de vida dos bolsistas de origem popular que constituem o programa”.
O PET/Conexões de Saberes foi implantado na UFFS no final de 2010, a partir de um edital do Ministério da Educação (MEC) e abrange atividades de ensino, pesquisa e extensão. Os textos publicados no livro “Há uma universidade no meio do caminho” foram escritos por dez bolsistas que passaram pelo programa nesse um ano e meio de atividades. A publicação conta com financiamento advindo da verba de custeio disponibilizada pelo MEC para fomento do projeto.
O caminho
Conforme Ingrassia, a elaboração de memoriais formativos estava prevista no projeto inicial do PET/Conexões de Saberes na UFFS. “Essa é uma técnica que vem sendo desenvolvida a partir de uma perspectiva de construção do conhecimento autobiográfica”, pondera. Para subsidiar a produção, os estudantes tiveram a oportunidade de ler memoriais formativos desenvolvidos em projetos de Conexões de Saberes de outras universidades brasileiras. Também foram realizadas oficinas de produção de memoriais, de produção textual e diálogos coletivos.
“A proposta dos memoriais formativos vai além de simplesmente você narrar memórias, descrever trajetórias, é a possibilidade de, ao refletir sobre a sua trajetória, poder criar condições de entendimento das circunstâncias, dos condicionantes que estão presentes para as pessoas chegarem até a universidade”, diz Thiago. Segundo ele, essas informações dão subsídio para entender melhor quem é o estudante que chega à UFFS, especificamente no Campus Erechim.
“Se a Universidade, institucionalmente, foi pensada dentro de um projeto de expansão e de interiorização do ensino público, a ideia é entender, de fato, quem são essas pessoas que estão usufruindo dessa política. Ao discutir, ao se apresentar, esses 10 estudantes se configuram como uma mostra importante deste público que a UFFS veio para tentar atingir”, argumenta.
Segundo ele, a ideia não é comercializar o livro, mas sim garantir que ele chegue a escolas, universidades, bibliotecas públicas, “dando um pouco dessa mostra de um texto escrito por estudantes, com uma trajetória que às vezes se assemelha a de tantos outros que hoje estão nas escolas públicas e que poderão ter acesso ao livro, o qual traz um pouco de como é essa construção de continuar estudando quando se vem de classes populares, o que no Brasil é um desafio”, conclui.
Uma universidade
“Uma oportunidade de vivenciar e refletir sobre a universidade”, é assim que a acadêmica do curso de Ciências Sociais, Joviana Vedana da Rosa, de 26 anos, vê o Grupo Práxis-PET/Conexões de Saberes. Bolsista do programa há um ano, ela conta que escrever o memorial formativo não foi uma experiência fácil. “Refletir sobre nossa trajetória até a universidade é refletir sobre o que somos e tudo o que nos fez estar aqui hoje. Esse movimento traz à tona momentos bons, ruins e difíceis que nos marcaram. Portanto, havia a dificuldade de se confrontar com o que, algumas vezes, não queremos recordar”, afirma.
Para a estudante, a publicação do livro é uma contribuição para consolidar o PET/Conexões de Saberes na universidade, além da própria UFFS. “É algo que promoveu os alunos bolsistas a se reconhecerem como autores, não apenas de sua própria história, mas também como parte da construção da Universidade”, destaca.
Uma conquista
A estudante Fernanda May integra o Grupo Práxis desde o início do programa, em dezembro de 2010. Segundo ela, a escrita do memorial foi desafiadora. “Quando recebemos a proposta de escrever um memorial contando sobre nossa trajetória de vida, em um primeiro momento pareceu simplesmente a redação de um texto como qualquer outro. Mas a medida que fui exercitando essa escrita apareceram desafios maiores, como trabalhar, por exemplo, a escolha do que contar, de como contar, os sentimentos quando da afirmação de uma origem, de uma condição social, as lembranças do passado, da infância, da trajetória escolar”, diz.
Para a estudante, ver o livro pronto é a materialização de uma conquista. “Acho que para muitos o teor do livro, um livro que conta histórias de vida, pode não ter muita importância, no entanto para nós, os autores, os que se desafiaram a expor suas histórias, é precioso saber que em algum lugar, algum dia, alguém poderá se identificar com alguma das nossas experiências e, assim como nós, acreditar que a tão sonhada formação superior é possível, mesmo com todas as contradições e desafios do caminho de cada um”, finaliza.
Autores
Estudantes: Daniel Gutierrez, Fabrício Fontes de Souza, Fernanda May, Janniny G. Kierniew, Joviana Vedana da Rosa, Paula de Marques, Rafaela da Silva Bispo, Sandra Regina Müller Ferreira, Selí Teresinha Leite, Silvia Maria Ujacov; professores: Luis Fernando Santos Corrêa da Silva, Maria Aparecida Bergamaschi, Rafael Arenhaldt, Thiago Ingrassia Pereira, Zoraia Aguiar Bittencourt.
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