Publicado em: 26 de outubro de 2020 10h10min / Atualizado em: 26 de outubro de 2020 15h10min
Casas semienterradas. Essa foi a inspiração do estudo arquitetônico desenvolvido pelo projeto de extensão da UFFS – Campus Erechim “Propostas arquitetônicas junto aos Kaingang” para o espaço cultural da terra indígena Ventarra, localizada no município de Erebango/RS.
O projeto de extensão surgiu a partir do diálogo com a comunidade escolar Kaingang, representada pelo Círculo de Pais e Mestres da Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Kanhrãnrãn Fã Luis Oliveira, que demandou um estudo arquitetônico para um espaço de uso múltiplo, localizado próximo ao ginásio da nova escola, que está em construção. A proposta elaborada pelo projeto contempla uma casa subterrânea, um centro cultural, uma arquibancada sombreada e o paisagismo da área.
O estudo teve como base as casas semienterradas que caracterizam a ocupação pré-colonial da região pelos antepassados dos Kaingang. “É uma forma de possibilitar que a história e a cultura Kaingang estejam mais próximas da educação escolar. Na casa subterrânea, por exemplo, as crianças poderão ter aulas, ouvir histórias e todos os moradores da comunidade poderão experienciar como eram as moradias de seus ancestrais”, explica a coordenadora do projeto, professora Nauíra Zanardo Zanin.
O centro cultural, que possui capacidade para aproximadamente 200 pessoas, poderá ser usado para a realização de reuniões, eventos, feiras, apresentações e festividades locais. Já a arquibancada sombreada, além de abrigar eventos diversos de menor porte, também poderá ser utilizada para encontros da comunidade, apresentações culturais e lugar para as crianças brincarem. "A partir das conversas realizadas com representantes da comunidade escolar, compreendemos que os espaços seriam utilizados para a educação Kaingang, incluindo a língua, música, danças, contação de histórias e eventos abertos da comunidade, como a Semana da Cultura, realizada em abril, quando a comunidade recebe visitantes, realizam apresentações culturais e venda de artesanato”, destaca Nauíra.
Ainda em relação à concepção arquitetônica, Nauíra conta que todos os ambientes propostos contam com a presença do fogo de chão, que foi um pedido da comunidade para que pudessem ser contempladas as tradições construtivas de seus antepassados, possibilitando o preparo de alimentos tradicionais junto à escola.
Além da professora Nauíra, trabalham no projeto o professor Luis Eduardo Modler, os técnicos Bruno Prina e Luis Carlos Ribeiro dos Santos, os estudantes de Arquitetura e Urbanismo Bruna Farina, Kariane Gaiardo, Marlize Goulart, Nilson Pereira Christiano e a representante da comunidade kaingang Jucemari da Silva Corrêa.
As próximas etapas do projeto
Devido ao distanciamento social provocado pela pandemia de Covid-19, houve uma dificuldade de seguir algumas das etapas propostas no início do projeto, em setembro de 2019, e algumas atividades que estavam previstas não puderam ser realizadas. Uma dessas etapas é a apresentação presencial do projeto à comunidade da terra indígena Ventarra.
“Considero que as etapas desenvolvidas do projeto de extensão foram muito válidas, tanto para a formação dos estudantes de Arquitetura e Urbanismo como para mantermos uma relação respeitosa de trocas e aprendizados com Kaingang da terra indígena Ventarra. Apesar das dificuldades encontradas devido à suspensão das atividades presenciais, foi possível dar continuidade ao que planejávamos ser uma etapa intermediária, a partir da qual somente seria possível prosseguir depois de conversarmos com os representantes Kaingang. Dessa forma, deixamos o material preparado para, assim que possível, apresentar na aldeia e dar seguimento ao trabalho. A intenção é que o material produzido ao final do projeto seja utilizado pela comunidade para captação de recursos para viabilizar sua execução”, finaliza Nauíra.
Arquitetura junto a povos indígenas
Com mestrado em Engenharia Civil e doutorado em Arquitetura e Urbanismo, Nauíra tem desenvolvido, nos últimos anos, diversas pesquisas com povos indígenas voltadas à arquitetura, em especial espaços escolares indígenas. Atualmente ela faz parte da rede latino-americana Coloquio de Nueva Arquitectura Indigena en las Américas.
Em setembro, foi uma das palestrantes no evento internacional Colóquio Virtual sobre Arquitetura Indígena nas Américas, que teve como tema “Arquitetura escolar para/com povos indígenas”. O evento foi promovido pela Universidade Nacional de Misiones, da Argentina, Universidade Autônoma de Yucatán, do México, e ARQA, da Argentina. A palestra intitulada “Arquitetura junto a Povos Indígenas: relações entre construção autóctone, processo de projeto e apropriação de ambientes escolares” está disponível on-line.
No último dia 5, o portal de notícias oficial do Vaticano, Vatican News, publicou a matéria “Povos indígenas: arquitetura escolar também educa, afirma pesquisadora brasileira”, que aborda a imersão da professora no campo de ambientes escolares para a educação indígena.
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