Projeto desenvolvido pela UFFS estuda acesso de atingidos por barragens a políticas de saúde

Publicado em: 16 de julho de 2015 13h07min / Atualizado em: 09 de janeiro de 2017 10h01min

Um projeto de extensão desenvolvido pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), em parceria com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e com financiamento do Ministério da Saúde, pretende fazer um diagnóstico da situação de acesso das populações atingidas por barragens às políticas do Sistema Único de Saúde (SUS). Na manhã desta quinta-feira (16), estudantes, professores e lideranças das comunidades se reuniram, em Erechim, para a primeiro seminário de organização das atividades. O encontro, realizado no Seminário Nossa Senhora de Fátima, tem dois dias de duração, com seu encerramento programado para esta sexta-feira (17).

O projeto “Formação dos Movimentos Sociais do Campo, das Águas e da Floresta” irá abranger comunidades de 17 municípios nos três estados de atuação da UFFS (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) e envolverá, diretamente, três campi da Universidade: Erechim (RS), Cerro Largo (RS) e Laranjeiras do Sul (PR). Conforme o coordenador da atividade, professor do Campus Erechim, Émerson Neves da Silva, a estimativa é que cerca de 17 mil pessoas sejam atendidas pelas ações do projeto de extensão. De acordo com ele, o objetivo central da iniciativa é avaliar as condições de acesso de atingidos por barragens aos serviços do SUS e realizar capacitações com as populações atingidas para que esse acesso seja facilitado.

Sinteticamente o projeto está organizado em cinco fases. A primeira é a organização das ações e o desenvolvimento do mecanismo de diagnóstico; a segunda é a aplicação dos questionários entre os atingidos por barragens; a terceira é a etapa de formação, que envolverá lideranças comunitárias e agentes de saúde; a quarta é um encontro interestadual de avaliação dos dados coletados; e a quinta fase é a sistematização dos dados e experiências para elaboração de um relatório que, posteriormente, será publicado.

O orçamento do projeto é de R$ 480 mil e deverá ser concluído até janeiro de 2016.

Parceria

A ação de extensão é uma forma de buscar elementos científicos para observações que, até o momento, são feitas baseadas na observação cotidiana de quem trabalha diretamente com as comunidades. Conforme a integrante da Coordenação Nacional do MAB, Neudicléia de Oliveira, "durante as construções das barragens no Brasil houve, sistematicamente, a violação de diversos direitos humanos e, na compreensão das organizações sociais, um deles é a questão do acesso à saúde. O objetivo é nós, junto com a UFFS e o Ministério da Saúde, conseguir constatar qual é o acesso dessas populações que são ameaçadas, que são atingidas e que passam por esse processo de construção das barragens, aos programas do Sistema Único de Saúde”, explica.

Ela também dá ênfase para a questão de que a saúde precisa ser analisada de maneira ampla, levando em consideração, inclusive, a questão psicológica das famílias. “O projeto abrange três regiões. No Paraná a região do Baixo Iguaçu, que está em um período de construção de hidrelétricas, aqui a região do Alto Uruguai, onde há uma população que já passou pelo processo de construção de barragens, e na região do Campus Cerro Largo temos comunidades que vivem a ameaça dos projetos, então, teoricamente, esse projeto conseguiria identificar o antes, o durante e o depois da construção de hidrelétricas”, analisa.

Neudicléia tem a expectativa de que, para além do meio acadêmico, a ação sirva como uma ferramenta para a organização do trabalho de base das populações atingidas, como um mecanismo para embasar futuras reivindicações junto ao estado.

Diálogo contínuo

O professor Émerson Neves da Silva explica que o projeto de extensão nasce no bojo de uma contínua relação de diálogo da Universidade com os movimentos sociais. Ele destaca, nesse sentido, a atuação do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Estudos Agrários, Urbanos e Sociais (Nipeas) que desenvolve uma série de pesquisas e ações de extensão de maneira conjunta com organizações sociais do campo e da cidade.

O pesquisador destaca que projetos nesse formato têm como característica a formação tanto dos estudantes da Universidade envolvidos na proposta, alguns como bolsistas do projeto, como dos integrantes das comunidades abrangidas. Da mesma forma, produz subsídio teórico acerca dos temas em foco. “A gente reconhece que os movimentos sociais são atores importantes no sentido de apontar problemas que merecem ser estudados. A partir daí se desenvolve um processo de investigação, com rigor científico, dentro de metodologias reconhecidas internacionalmente”, destaca.

Municípios abrangidos pelo projeto

Aratiba (RS), Marcelino Ramos (RS), Mariano Moro (RS), Concórdia (RS), Itá (SC), Alecrim (RS), Porto Mauá (RS), Crissiumal (RS), Novo Machado (RS), Porto Xavier (RS), São Nicolau (RS), Garruchos (RS), Santa Rosa (RS), Capanema (PR), Capitão Leônidas Marques (PR), Realeza (PR) e Planalto (PR).