Seminário vai discutir Anarquismo e Lutas Sociais no Campus Erechim

Publicado em: 13 de dezembro de 2012 12h12min / Atualizado em: 05 de janeiro de 2017 12h01min

O Grupo de Pesquisa Anticapitalismos e Sociabilidades Emergentes (Gpase) e a Federação Anarquista Gaúcha (FAG) promovem neste sábado (15) o primeiro Seminário Anarquismo e Lutas Sociais na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim. Conforme o coordenador do Gpase e integrante da comissão organizadora, Cássio Cunha Soares, “o evento coloca em evidência uma reflexão sobre o papel do Anarquismo como teoria política, como perspectiva filosófica e como movimento social”.

A atividade, que terá início às 13h30min e será realizada na sala de reuniões do Seminário Nossa Senhora de Fátima, é aberta a todos os interessados. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas no local do evento. Militantes de diferentes coletivos anarquistas do Rio Grande do Sul são esperados para o evento.

O tema

“No debate acadêmico, mais no campo progressista de esquerda, durante mais de um século as correntes mais identificadas com a perspectiva popular estiveram associadas ao Marxismo em virtude do próprio papel que ele exerceu com o advento da União Soviética. Contudo, existe uma história subterrânea das lutas das classes operárias que foi eclipsada pelo Marxismo. A ideia é dar visibilidade a uma outra corrente político-filosófica, que é o Anarquismo”, explica Cunha Soares.

Segundo ele, há pelo menos 30 anos muitos intelectuais vinculados aos campos mais diversos da filosofia, da economia, da política e da sociologia iniciaram o desenvolvimento de uma série de teses sobre mudança política, sobre organização no mundo popular, que acabaram se aproximando das antigas teses anarquistas. “Na verdade, muito mais do que uma crítica a qualquer forma de governo, ela é uma crítica ao Estado como uma forma específica de organização política”, diz o coordenador do Gpase.

Cunha Soares também pondera que o esforço para abrir espaços de debate sobre o tema, não só na universidade, mas na sociedade de uma forma geral, tem como um dos objetivos desmistificar o conceito do Anarquismo. “Existe uma visão preconceituosa que identificava o Anarquismo como bagunça, como caos. Na verdade, o Anarquismo nasce com o movimento do interior da classe trabalhadora para fazer a crítica não só do capital como aquilo que explora o trabalhador, mas do próprio Estado como uma entidade separada da sociedade e que monopoliza um conjunto de instrumentos de repressão, instrumentos econômicos e, a partir daí, consegue manter a dominação que existe no campo econômico. Mas, em última instância, o Anarquismo é uma filosofia política muito sofisticada para fazer a crítica das relações de poder e das relações de dominação”, argumenta.

Entre os princípios desse pensamento está a ideia de criação de uma sociedade que seja autogerida ou autogovernada, “o que significa que todas as discussões políticas que criam os regramentos sociais devam passar por várias instâncias e permitir que várias pessoas possam participar dessas instâncias. Ou seja, eu só obedeço a uma lei que eu ajudei a criar; eu não vou obedecer a uma lei que um outro criou em meu nome. É isso que é, mais ou menos, o espírito anárquico ou libertário”, afirma Cunha Soares.

Estudo

O professor destaca que o evento tem a participação do Gpase como um de seus promotores, no entanto isso não significa que o grupo tenha a intenção de fazer campanha em prol dessa linha de pensamento político-filosófico, mas sim debater e buscar entender como se organiza esse pensamento. “Então quer dizer que os estudantes e professores do Gpase são anarquistas? Não. O objetivo não é fazer campanha pelo Anarquismo, mas entender com seriedade o que foi esse movimento político, que ainda existe, entender as formas de organização e, ao mesmo tempo, fazer essa sintonia entre o conteúdo dessa filosofia política e a prática social de algumas experiências que existem hoje no meio dos movimentos sociais”, conclui.