Publicado em: 09 de janeiro de 2014 07h01min / Atualizado em: 03 de janeiro de 2017 10h01min
Na última quarta-feira (8) foram realizados o ato de abertura e a aula inaugural da primeira turma do curso Interdisciplinar em Educação do Campo: Ciências Sociais e Humanas – Licenciatura da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Laranjeiras do Sul. Pela manhã foi realizada a acolhida aos novos alunos, que contou com uma mística e apresentação de dança de grupos indígenas kaingang e guarani. À tarde foi realizada a aula inaugural e à noite as atividades prosseguiram com palestra e atividade cultural.
A mesa do ato solene de abertura foi composta por Antônio Inácio Andrioli, vice-reitor da UFFS; Derlan Trombetta, da Pró-Reitoria de Graduação; Paulo Henrique Mayer, diretor do Campus de Laranjeiras do Sul; José Lemos, Deputado Estadual; Solange Todero Von Onçay, coordenadora do curso Interdisciplinar em Educação do Campo: Ciências Sociais e Humanas; Ivo Amorim, representante dos movimentos sociais da região; cacique Sebastião Tavares, representando a etnia Kaingang; João Pedro Stédille, representante dos Movimentos Sociais e Via Campesina; e Isabel Grein, da Articulação Paranaense da Educação do Campo.
Os membros da mesa destacaram, principalmente, o processo de implantação do novo curso, a importância do regime de alternância no contexto regional, a participação dos primeiros indígenas em um curso de graduação no Campus Laranjeiras do Sul, e a UFFS como conquista dos movimentos sociais.
A professora Solange aponta a demanda do curso na região. "A formação de professores nas áreas sociais humanas é uma demanda comprovada por estatísticas. Além disso, para a universidade é uma grande expectativa, pela sua origem, a perspectiva da alternância. Cursos que dialogam com as práticas sociais das comunidades de onde os educandos são oriundos, com suas vivências, suas práticas, com as questões que são fundamentais serem estudadas, aprofundadas, teorizadas", aponta a coordenadora.
Para a aluna Marivani Mettler, 34, o curso ser voltado para o campo foi um grande incentivo para sua escolha. "Como eu trabalho com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o curso vai contribuir muito na minha formação, para a gente trabalhar com o povo, ensinar o povo do campo a respeitar sua cultura, sua origem, e incentivar a continuar na roça, e não ir em busca de estudo na cidade", diz a estudante.
Elizandra Fygsãnh Freitas, 17, também encontra em sua própria comunidade o incentivo para cursar Interdisciplinar em Educação do Campo. "É pela minha comunidade, pela minha família, porque lá na área indígena ainda não tem um profissional formado na área da educação", conta Elizandra, membro da comunidade Kaingang.
Durante o ato solene, houve uma mística, realizada por alunos do curso Interdisciplinar em Educação do Campo com ênfase em Ciências Naturais. Em certo momento, os estudantes utilizaram terra molhada para deixar as marcas das palmas de suas mãos em uma grande faixa, onde se lia "Que a universidade se pinte de povo". "Quando a gente vê os nossos alunos deixando as marcas de suas mãos, sua impressão digital, na faixa, isso tem um significado importante para a universidade e para a educação do campo, que é a relação e o laço que se mantém com a própria terra, que é nossa mãe. Representa também o compromisso que nós temos com o desenvolvimento dos povos do campo", analisa o diretor Mayer.
O vice-reitor Andrioli compartilha esse compromisso com o desenvolvimento dos povos do campo. "É necessário fortalecer a educação do campo e a educação popular na UFFS. Isso significa fortalecer a base social que deu origem à nossa universidade - a Via Campesina, a Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), os movimentos sociais do campo -, que construíram esse conceito de educação do campo. Conseguimos implantar aqui, desde 2010, um curso de Educação do Campo com enfoque nas ciências naturais e matemática, e agora complementamos com ciências humanas e sociais, com mais um elemento importante, que é o curso ser oferecido em regime de alternância, muito mais adequado, muito mais coerente com a própria proposta da educação do campo", afirma o vice-reitor.
A aula inaugural foi ministrada pelo economista e ativista social João Pedro Stédille, coautor de diversos livros sobre a questão agrária. O tema da aula foi "Projetos de Desenvolvimento em disputa e o papel da Universidade". À noite, no Assentamento Oito de Junho, Stédille ministrou ainda a palestra "Os projetos de desenvolvimento para o campo na atual conjuntura". Na ocasião também foi realizada uma atividade cultural.
O curso
O curso Interdisciplinar em Educação do Campo, com ênfase em ciências sociais e humanas, pretende formar professores capacitados para atuar nas escolas do campo, tanto na gestão dessas escolas e demais processos educativos, quanto na docência, na área de conhecimento de sua formação (história, geografia, sociologia e filosofia).
Dos estudantes inscritos no novo curso, a maioria tem algum vínculo com movimentos sociais, sindicais, indígenas, realizou o ensino médio nas Casas Familiares Rurais, ou possui relação com atividades relacionadas à educação do campo. Este curso atende à demanda formulada pelo Ministério da Educação (MEC), por meio do Edital de Chamada Pública n° 2, de 31 de agosto de 2012, obtendo a terceira classificação na aprovação de seu projeto pedagógico dentre um total de 44 projetos aprovados pelo edital no país.
O diferencial deste curso é que será desenvolvido dentro do sistema de alternância, de forma que se promova sua integração com o espaço de onde o estudante é oriundo. Por isso, os estudantes passam um tempo na universidade, alternando o tempo de estudo com um tempo em suas comunidades de origem.
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