Publicado em: 06 de junho de 2024 15h06min / Atualizado em: 06 de junho de 2024 16h06min
Na última segunda-feira (3), em uma ação conjunta, foram semeadas 4 toneladas de sementes de palmeira juçara em uma área de Mata Atlântica situada na comunidade Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu-PR. Já na terça-feira, dia 4, ocorreu a semeadura de 2 toneladas de palmeira juçara e 1 tonelada de araucária na Terra Indígena Rio das Cobras, em Nova Laranjeiras-PR. As ações integram as atividades da 2ª Jornada da Natureza, realizada entre os dias 3 e 7 de junho, durante a qual serão semeadas 12 toneladas de sementes de palmeira juçara e araucária em diversas regiões do Paraná.
A iniciativa é promovida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e conta com o apoio do Laboratório Vivan de Sistemas Agroflorestais da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) - Campus Laranjeiras do Sul, da Polícia Rodoviária Federal (PRF), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra/PR), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). As atividades contaram com a presença de diversas autoridades, entre elas a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, o chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo e ministra do MDA, em exercício, Fernanda Machiaveli.
As sementes coletadas pelos camponeses foram lançadas em áreas de Mata Atlântica por um helicóptero da Divisão de Operações Aéreas da Polícia Rodoviária Federal. Além de contribuir para o reflorestamento de uma área de 100 hectares e a preservação da espécie, a ação também visa gerar uma fonte de renda alternativa para as famílias que vivem na região.
O professor Julian Perez Cassarino explica que o Laboratório Vivan de Sistemas Agroflorestais da UFFS - Campus Laranjeiras do Sul tem uma parceria com os agricultores vinculados ao MST para o desenvolvimento de ações de pesquisa e extensão com frutas nativas da Mata Atlântica, com mais de seis anos de trabalho. Além disso, o projeto de extensão da UFFS "Sabores da Agrofloresta - a fruta camponesa" ofereceu aos agricultores diversas oficinas sobre o beneficiamento de frutas nativas e, a partir disso, estabeleceram parcerias em diversos aspectos, desde orientações técnicas sobre o cultivo até a comercialização dos produtos. “É uma alegria participar do lançamento das sementes na área de reserva legal. Estamos mostrando que é possível produzir alimentos saudáveis não só conservando, mas também enriquecendo as nossas florestas.”
Em 2023, a UFFS também foi parceira no lançamento de 4 toneladas de sementes de palmeira juçara em uma área de 67 hectares de preservação, na mesma localidade. Conforme relata o docente, “dois estudantes do mestrado em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável (PPGADR) estão trabalhando em torno da proposta das frutas nativas. Uma das pesquisas tem como foco o monitoramento da semeadura realizada no ano passado, enquanto a outra busca avaliar a viabilidade econômica de várias frutas nativas, incluindo a juçara. Além disso, na UFFS são desenvolvidas diversas pesquisas, incluindo o estudo sobre a germinação das sementes”.
Cassarino comenta que “a mestranda Giovana Carriel está realizando o monitoramento dos resultados da semeadura realizada em 2023. A área de 67 ha foi dividida em 30 parcelas de 100m², já medimos seis delas e identificamos uma média de dez a onze mil mudas por hectare, o que é uma densidade bastante alta, demonstrando a eficácia do método aplicado para o plantio. Até o momento, realizamos o levantamento nas áreas mais próximas, em florestas mais abertas. Estamos começando a entrar nas áreas mais fechadas para entender o comportamento da juçara nessas regiões. Por enquanto, temos resultados bastante interessantes; as mudas estão com cerca de 14 centímetros, dentro do esperado para o crescimento.”
“No médio prazo, se todas essas mudas realmente sobreviverem, talvez tenhamos que avaliar a retirada de algumas plantas para permitir o desenvolvimento de outras espécies. Estamos com o olhar atento para isso, mas é muito importante que a juçara se desenvolva, pois o fruto é um grande atrativo para a fauna nativa da região. Nosso cuidado é para que ocorra a regeneração da floresta como um todo, não apenas da juçara”, complementa.
Na foto uma muda de palmeira juçara. Foto: Ascom-LS.
A bióloga e mestranda do PPGADR Giovana de Deus Carriel comenta sobre sua pesquisa: “Em novembro do ano passado, fizemos a primeira visita a campo e identificamos os locais onde seriam demarcadas as parcelas. No mês de maio, contabilizamos e marcamos as plantas encontradas nas parcelas. As marcações levam em consideração o tamanho e a quantidade de plântulas, iremos utilizar esses dados para identificar a densidade e avaliar como isso contribuirá para a regeneração da floresta. Até o momento, os resultados são surpreendentes; o número de plântulas é bastante alto, cerca de 80 por parcela e estão com 14 a 15 cm em média”.
Em relação às próximas etapas da pesquisa, Giovana relata que “a cada ano teremos que realizar novas medições para acompanhar o desenvolvimento das plantas. Precisamos analisar o quanto a incidência de sol interfere no crescimento das plântulas e monitorar se teremos plantas excedentes. Se isso for identificado, será necessário realizar o raleamento, que consiste na retirada das plantas excedentes. Normalmente, isso ocorre de forma natural, porém, se for necessário a intervenção humana, podemos realizar o raleamento com o aproveitamento do palmito, o que proporciona uma retirada rentável”.
“A juçara produz muitos frutos que amadurecem em diferentes períodos e que servem de alimento para vários animais, a maioria deles pequenos mamíferos e aves. Esses animais se alimentam da juçara, mas também consomem outras frutas. Com a circulação desses animais, ocorre a dispersão de outras espécies, contribuindo para a regeneração da fauna e flora local como um todo”, explica a estudante.
Josué Evaristo Gomes é um dos agricultores que reside na área onde ocorreu a semeadura da palmeira. Ele comenta sobre a importância da ação: “Estamos tentando corrigir um erro que o ser humano cometeu no passado, que foi a extração predatória dessa espécie. Se observarmos o histórico de cinco ou seis décadas atrás, tínhamos a palmeira em abundância, e hoje praticamente não a encontramos. Aqui na minha propriedade, por ser um local de difícil acesso, ainda encontramos algumas plantas, então a importância é imensurável. É muito gratificante trabalhar com a palmeira juçara e poder fazer um pouquinho por essa espécie que é tão importante para o nosso meio ambiente”.
Na foto o agricultor Josué Evaristo Gomes. Foto: Ascom-LS.
Na propriedade de Josué, são encontradas algumas plantas adultas, e a família já trabalha com os frutos da palmeira, o açaí-juçara, transformando-o em polpa e comercializando tanto a polpa pura quanto utilizando-a para consumo na forma de bolos ou mesmo pura. Além disso, a associação da qual a família faz parte também transforma a polpa em sorvete.
Sobre a produção, Gomes comenta: “As expectativas são muito boas, pois já temos um grande potencial com essas árvores nativas encontradas nas encostas e nas áreas de reserva da propriedade. Com base nas ações que estão sendo realizadas, daqui a sete ou oito anos, certamente teremos um grande número de palmeiras e teremos muito trabalho com o extrativismo sustentável da espécie”.
Em relação à participação no projeto de extensão Sabores da Agrofloresta - a fruta camponesa, o agricultor relata que o início da atividade foi fundamentado no projeto. “O projeto me ajudou porque, no momento, não tinha condições de adquirir os equipamentos, e o Laboratório Vivan disponibilizou a máquina despolpadeira, ministrou oficinas e forneceu todo o suporte inicial, além de abordar também a parte da comercialização. Hoje, o Coletivo das Frutas Nativas, organizado pelo Laboratório Vivan da UFFS, faz esse processo de organização desse grupo regional, o que nos possibilita ter uma renda a partir da venda das polpas das frutas nativas”.
“Posso dizer que essa atividade não existiria se não tivéssemos o suporte do projeto. Os estudantes engajados nesse trabalho buscam conhecimento e repassam as informações para os produtores, enquanto os professores estão sempre dando suporte, orientação, organização e ajudando os agricultores, inclusive a plantar mais espécies nativas aqui da nossa região, então o projeto vem sendo muito importante. No início só eu participava do coletivo, hoje doze famílias do município fazem parte do coletivo, então são doze famílias sendo beneficiadas pelo projeto da UFFS - Campus Laranjeiras do Sul, especificamente pelo Laboratório Vivan”.
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