Publicado em: 09 de fevereiro de 2018 09h02min / Atualizado em: 15 de fevereiro de 2018 13h02min
A UFFS vem fazendo história na formação de indígenas. Depois de conceder os primeiros títulos de mestre e especialista a acadêmicos indígenas, o Campus Laranjeiras do Sul formou, no último sábado (3), sua primeira turma do curso Interdisciplinar em Educação do Campo: Ciências Sociais e Humanas, entre os novos graduados, três são indígenas.
Os acadêmicos, agora formados, Adelar Fagpri Felix Nunes Manduca, Elizandra Fygsãnh Freitas e Viviane Kellen Vygte Barão são da etnia Kaingang, oriundos da terra indígena Rio das Cobras, localizada em Nova Laranjeiras-PR. Comprometidos com suas origens, os trabalhos de conclusão de curso dos três graduados abordam temáticas relacionadas à terra indígena.
Adelar analisou, em seu trabalho intitulado “Da aldeia à Universidade: os acadêmicos indígenas no Curso Interdisciplinar em Educação do Campo: Ciências Sociais e Humanas – Licenciatura da Universidade Federal da Fronteira Sul”, o acesso e a permanência dos estudantes indígenas no curso, identificando as dificuldades vivenciadas por eles e levantando elementos para contribuir com a política institucional da Universidade. Analisou, ainda, se as políticas de acesso e permanência contemplam as necessidades dos acadêmicos, bem como as especificidades do Projeto Pedagógico de Curso (PCC) em relação aos indígenas.
Já Elizandra procurou, em seu trabalho intitulado “Lei e política na Terra Indígena Rio das Cobras: a influência do Estado Brasileiro sobre a tradição Kaingang”, analisar as maneiras como as lideranças coletivas e o cacique tomam decisões em relação aos problemas que acontecem na terra indígena, buscando compreender onde se define o papel da comunidade perante as lideranças e a sua própria cultura, assim como quais transformações ocorreram no processo histórico recente que alteraram as relações de poder no interior da Terra Indígena e, ainda, quais são os pontos de vista da comunidade a respeito da questão política e da presença de leis externas incluídas na aldeia Rio das Cobras.
Por sua vez, Viviane, buscou evidenciar em seu trabalho, intitulado “O bilinguismo no contexto histórico e atual nas comunidades Kaingang: o papel do Colégio Rural Estadual Indígena Rio das Cobras”, a questão do bilinguismo e a maneira como a língua materna (Kaingang) interfere na aprendizagem da segunda língua (Português) no processo educacional, incluindo o papel da língua materna e sua importância para a própria identidade dos indígenas.
Sobre as experiências e importância do Curso, Elizandra enfatiza que enfrentaram muitas dificuldades durante o curso, principalmente no que diz respeito à Língua Portuguesa. “Todas as vezes que pensávamos em desistir, lembrávamos de nosso povo e que, apesar de querermos permanecer em nossa cultura, precisamos buscar novos conhecimentos, para assim enfrentar os preconceitos que ainda sofremos. Por isso, ter entrado no curso foi muito importante e, como ele é em regime de alternância, podíamos estar ao mesmo tempo com nossa comunidade e na Universidade.”
Viviane também destaca que a língua foi uma das maiores dificuldades, não somente na Universidade, mas desde a Educação Básica, pois a maioria dos professores são não-índios. Para ela a alternância é um dos principais motivos que colaboram para que os indígenas permaneçam no curso. “Quero continuar estudando para poder atuar na educação indígena, de acordo com as necessidades da minha comunidade e da nossa juventude. Se hoje estou na Universidade é pelo incentivo que recebo de minha família, para poder lutar por eles e por minha comunidade”.
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