O projeto "Memória Viva Marau: Estratégias Inovadoras de Cuidado Frente aos Impactos da Pandemia da COVID-19", desenvolvido no âmbito do Programa de Residência Multiprofissional da UFFS – Campus Passo Fundo, foi destaque na Mostra Teu SUS, Rio Grande do Sul, durante o 32º Congresso do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (COSEMS/RS), realizado em Gramado.

A mostra de experiências exitosas em saúde pública "Mostra Teu SUS, Rio Grande do Sul" foi uma estratégia de valorização e reconhecimento da dedicação e do empenho dos trabalhadores do SUS, enaltecendo a importância de cada um no cotidiano das suas atividades para levar saúde de qualidade a todos os lugares, superando desafios, adversidades e problemas históricos.

Participaram dessa mostra 237 experiências. Delas, 20 foram premiadas em âmbito estadual. No dia 12 de julho, as experiências premiadas serão apresentadas no Congresso Nacional do CONASEMS, em Campo Grande, onde novamente concorrerão à premiação nacional.

O projeto "Memória Viva Marau: Estratégias Inovadoras de Cuidado Frente aos Impactos da Pandemia da COVID-19" ficou em segundo lugar na classificação geral. A execução do projeto envolveu articulação entre a equipe da Vigilância em Saúde, a Rede de Atenção Primária em Saúde e o Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Básica da UFFS – Campus Passo Fundo.

Sobre o Projeto

Frente à emergência da pandemia da covid-19, evidenciou-se o caráter epidemiológico no condicionamento e nos determinantes de saúde e doença, que também estão ligados aos diferentes modos de vida e cuidado ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, constatou-se que, além do registro diário do número de casos novos, internações e óbitos pela equipe de Vigilância Epidemiológica do município de Marau - RS, era necessário pensar em ações no campo da saúde mental, especialmente, voltadas para os sujeitos afetados pelas perdas de familiares e entes queridos, cidadãos ativos e usuários do SUS.

Apesar das incertezas foi através dessa articulação, seus saberes e práticas, que tornou-se possível a criação de espaços de escuta e acolhimento para a dor e sofrimento da população, preservando a memória, a vida e a saúde humana em suas múltiplas dimensões.
Inicialmente, a proposta, elaborada pelas psicólogas do Programa de Residência, foi apresentada à gestão municipal da saúde de Marau, visando sensibilizar para a importância de uma ação de cuidado continuado, voltada às famílias que sofreram perdas pela covid-19. Após a pactuação, realizou-se contatos com as equipes de ESF, a fim de identificar os familiares de referência. Em seguida, foi realizada busca ativa desses contatos e proposto um momento de visita domiciliar, convidando os familiares a relatarem as histórias de vida, lembranças marcantes, afetos e vivências traumáticas relativas ao período de adoecimento e morte da vítima.

A partir da escuta atenta e qualificada, foram elaborados relatos poéticos em forma de homenagens virtuais, que ficam disponibilizadas nas redes sociais do projeto (@memoriavivamarau). Para que a divulgação do nome das vítimas fosse tornada pública, as famílias consentiram a publicação, assinando  termo de autorização de uso de voz e imagem. Quando identificada a necessidade de acompanhamento psicológico ou dificuldades no processo de elaboração do luto, há o encaminhamento às ESFs de referência. Ainda, o material gráfico digital, produzido pela equipe responsável pelo projeto, elege a flor sempre-viva devido ao seu simbolismo, pois mesmo após colhida e seca resiste ao tempo.

A experiência de adentrar nas casas e acolher as dores e questionamentos das famílias em luto é um trabalho que exige sensibilidade, escuta qualificada e articulação da Rede de Saúde. A pandemia tem impactado, sobretudo, o campo da saúde mental, sendo perceptível a fragilidade e angústia coletiva, fenômenos pelos quais a Vigilância em Saúde, as equipes de saúde e os programas de Residência Multiprofissional devem estar atentos.

Sendo assim, além de homenagear a memória das vítimas da covid-19, o trabalho oportunizou importante espaço de escuta e acolhimento, tornando-se uma ferramenta de cuidado. A divulgação virtual do memorial mostrou-se uma potente estratégia de aproximação entre o poder público e a comunidade, sendo que seu caráter permanente permite a continuidade e abertura para novas ações de prevenção e promoção à saúde mental.