Publicado em: 13 de fevereiro de 2023 13h02min / Atualizado em: 13 de fevereiro de 2023 13h02min
Sara Lüneburger, formada em Química pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Realeza, foi uma das vencedoras da 4ª edição do Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher”, promovida pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O reconhecimento é resultado do projeto que aborda a produção de biodiesel a partir do óleo da semente de seringueira, pesquisa desenvolvida na UFFS, em parceria com a Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) e a empresa Kaiser Agro.
A cerimônia foi realizada na última sexta-feira (10) e também foi transmitida pelo canal da SBPC, no YouTube. Nesta edição, a premiação foi dirigida às “Meninas Cientistas” - estudantes do Ensino Médio e da Graduação -, cujas pesquisas de iniciação científica demonstraram criatividade, boa aplicação do método científico e potencial de contribuição com a ciência no futuro. A egressa Sara Lüneburger recebeu o prêmio na área Engenharias, Exatas e Ciências da Terra, pelo projeto "Biodiesel production from Hevea Brasiliensis seed oil" (Produção de biodiesel a partir da semente de seringueira).
“Sempre prezamos por desenvolver ciência de qualidade - falo no plural, porque a ciência não se faz sozinha. Ter o trabalho reconhecido é muito especial e mostra que estou no caminho certo para continuar nessa luta. Certamente ficaremos ainda mais realizados quando este conhecimento desenvolvido em laboratório se tornar um produto real, colaborando com o mercado da seringueira e do biodiesel, impactando a sociedade”, comentou Sara sobre a premiação.
Sara Lüneburger desenvolveu projeto sobre a produção de biodiesel a partir da semente de seringueira (UFFS/Divulgação)
A pesquisa mostrou o potencial da semente da seringueira, considerada um resíduo florestal, como matéria-prima na produção de biodiesel. O trabalho teve como objetivo reduzir a acidez presente no óleo da semente. Ao utilizar ácido sulfúrico e metanol, um tipo de álcool, foi possível desenvolver um tratamento fácil, eficaz e economicamente viável para reduzir o teor de acidez. O método possibilitou obter 98,0% de teor de éster, valor relacionado à pureza final do biodiesel. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) estabelece que o valor mínimo aceitável é de 96,5%.
Os resultados do estudo foram publicados na Revista Científica Fuel, especializada na investigação de fontes de energia e de alto impacto no setor de combustíveis, e também são assinados pelos professores da UFFS – Campus Realeza Letiére Cabreira Soares, Dalila Moter Benvegnú, e da Unicentro André Lazarin Gallina. O trabalho também obteve o Prêmio Paulo Gonçalves de melhor artigo científico do ano sobre Heveicultura Brasileira, o qual é promovido pela Associação Paulista de Produtores e Beneficiadores de Borracha (Apabor).
A participação no projeto também impulsionou a egressa a cursar o Mestrado em Bioenergia, na Unicentro, onde continua a procurar novos usos para a semente de seringueira. “O projeto me introduziu à leitura acadêmica, à produção de ciência em laboratório, à escrita de projetos, artigos e patentes”, comentou Sara sobre a importância da iniciação científica durante a graduação na UFFS. “Agora no mestrado consigo desenvolver as atividades com mais facilidade, graças às experiências vivenciadas”, finalizou.
Solução para semente de seringueira
A proposta buscou apresentar uma nova destinação à semente da seringueira, considerada um resíduo florestal, que gera impactos ambientais ocasionando, por exemplo, o aumento excessivo da acidez no solo. Dessa forma, foi criada a parceria entre a UFFS, a Unicentro e a Kaiser Agro, empresa de São José do Rio Preto (SP), ainda no ano de 2018 para o desenvolvimento de uma tecnologia capaz de agregar valor ao resíduo.
O professor Letiére Cabreira Soares revela que um dos primeiros passos concentrou-se na extração do óleo da semente da seringueira, alcançando um rendimento de 34%. “Esses números podem sofrer variações, ficando na faixa de 38 a 46%, de acordo com a literatura”, detalhou. O rendimento é superior quando comparado com o percentual do óleo de soja, o qual também é utilizado na produção de biodiesel. “A soja, por exemplo, tem teor de óleo na faixa de 18 a 20% e o algodão, 29%, ou seja, os resultados obtidos com a semente de seringueira são superiores às oleaginosas mais utilizadas para a produção de biodiesel”, comparou.
Outro passo importante foi desenvolver um método capaz de reduzir a alta acidez presente no óleo bruto da semente de seringueira, que chega a ser 20 vezes maior do que a reação comporta para produção direta de biodiesel. “Não poderíamos desenvolver um método muito distante do que as empresas utilizam para o processamento do óleo na produção de biodiesel. Ele precisaria ser simples e ter o mínimo de adaptações para que fosse possível escalonar a produção. O método que criamos para baixar essa acidez pode ser feito em qualquer planta industrial”, destacou Letiére.
Utilizando ácido sulfúrico e metanol, nas proporções adequadas, foi possível obter uma redução de acidez em 99,55%. O tratamento viabilizou a produção do biodiesel que alcançou 98% de teor de éster, característica físico-química satisfatória e que atende as especificações da ANP. “Conseguimos criar uma tecnologia que utiliza menor quantidade de reagentes, com menor tempo de reação, além de ser um processo economicamente viável e compatível com os já utilizados pela indústria”, argumentou.
Patentes
Com o auxílio da Agência Internacionalização e Inovação Tecnológica (AGIITEC) da UFFS, foram depositadas duas patentes: a primeira à nível nacional, no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI); e a segunda à nível internacional via PCT (Patent Cooperation Treaty), possibilitando a proteção da tecnologia desenvolvida em outros países. A invenção foi depositada em cotitularidade entre a UFFS, a Unicentro e a Kaiser Agro e ainda aguarda deferimento.
“As parcerias que formamos ao longo desse processo foram importantes tanto para o financiamento da pesquisa, quanto para a obtenção de materiais, recursos e análises. A pesquisa é fruto de diferentes colaborações”, destacou Letiére que agradeceu a participação da AGIITEC na formulação dos acordos e depósitos das patentes, instituições de fomento, instituições de ensino parceiras, e Kaiser Agro.
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