Publicado em: 10 de março de 2020 16h03min / Atualizado em: 13 de março de 2020 12h03min
Na noite desta segunda-feira (9), o Auditório do Bloco A da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Realeza ficou lotado para discutir a temática da violência doméstica e feminicídio. O debate buscou celebrar o Dia Internacional da Mulher, comemorado no dia 8 de março, e contou ainda com apresentações culturais e exposição de produtos da Casa do Artesão de Realeza. Cerca de 130 pessoas participaram do evento, que abordou aspectos sobre a Lei Maria da Penha, avanços e dificuldades.
As apresentações culturais abriram as discussões e emocionaram o público. Ambas as peças retrataram histórias de mulheres que sofreram violência e as feridas dos abusos estavam realçadas na maquiagem das artistas. Na peça “E agora, Maria?” dos alunos do Colégio Estadual Irmã Maria Margarida, de Salto do Lontra, também foram apresentadas notícias locais e regionais sobre o tema, como a veiculada pelo Jornal de Beltrão, em 2017, evidenciando que a região Sudoeste do Paraná alcançou o 1º lugar em violência contra a mulher. No monólogo “Um sonho roubado”, de Gabriela Felipe, da Cia Dell’Arte de Ampére, foi exposto o medo e a realidade dos abusos sexuais sofridos pelas mulheres e o processo de culpabilização da vítima nesses casos.
Ambas as peças teatrais retrataram histórias de mulheres que sofreram violência (UFFS/Ariel Tavares)
Convidadas para a palestra, a juíza de Direito da Comarca de Realeza, Ursula Boeng, e a presidente do Conselho da Comunidade de Realeza, a advogada Gabriela Moschen Marins de Azevedo Machado, falaram sobre aspectos gerais da Lei Maria da Penha, dentre eles como a lei surgiu no ordenamento jurídico, os avanços alcançados e as limitações. Outra tema abordado foi o incentivo a sair do silêncio, tanto por parte da vítima quanto por parte daqueles que testemunham qualquer tipo de agressão à mulher.
Durante a explanação, a advogada Gabriela relatou a história da cearense Maria da Penha Maia Fernandes que lutou durante 20 anos para que seu agressor fosse punido. É desse processo que surge a lei de proteção à mulher, pois o Brasil foi condenado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos por negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica contra as mulheres. “Desde 2006, quando foi promulgada a Lei Maria Penha, até hoje ainda precisamos falar sobre violência contra a mulher”, comentou.
Advogada Gabriela relatou a história da cearense Maria da Penha que originou a lei de proteção à mulher (UFFS/Ariel Tavares)
De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Brasil terminou o ano de 2019 com mais de um milhão de processos de violência doméstica e 5,1 mil processos de feminicídio em tramitação. Dados do Painel de Monitoramento da Política Judiciária Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres, do CNJ, apontam que houve aumento de quase 10% nos casos de violência doméstica. Já os casos de feminicídio cresceram 5% em relação a 2018.
Diante dos números e de outros dados, a juíza Ursula Boeng ressaltou a importância das denúncias e a prestação de apoio às vítimas para procurar romper o ciclo da violência. “Não podemos nos fechar falando que em problema de casal não podemos interferir”, depois citou o exemplo da morte da advogada Tatiane Spintzer, em Guarapuava, em 2018. “Ela gritou por socorro no prédio onde morava e absolutamente ninguém saiu para ajudá-la ou chamar a polícia. Enquanto não procurarmos fazer alguma coisa, vamos continuar auxiliando os agressores”, defendeu.
Juíza Ursula Boeng ressaltou a importância de romper o ciclo da violência a partir de denúncias (UFFS/Ariel Tavares)
Para atendimento de situações de violência, o telefone da Polícia Militar é 190. Denúncias também podem ser envias para o whatsapp do 21º Batalhão de Polícia Militar de Realeza (46) 98801-6887. Também há o número 180, canal de denúncia oferecido pela Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos do Ministério dos Direitos Humanos (MDH).
A organização do evento foi da Coordenação Adjunta de Cultura do Campus Realeza, com apoio do Programa de Extensão Joaninha ou o que é?, Conselho da Comunidade de Realeza e Cia Dell’Arte.
Exposição do Programa Casa do Artesão
Também no evento foram expostos materiais produzidos por 13 artesãos de Realeza, como panos decorados, bonecas, trabalhos em biscuit, toalhas e muito mais. O grupo está veiculado ao Programa Casa do Artesão, gerenciado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo. A frente da pasta, a secretária Jucélia Hening Garbin diz que o programa surgiu para incentivar o artesanato local, bem como o comércio desse tipo de produto.
Outros trabalhos estão expostos na Casa do Artesão, anexo ao Lago Municipal de Realeza, às sextas e aos sábados, das 14h às 18h e no container ao lado Feira do Produtor, no centro da cidade, às terças, quintas e sextas, das 8h às 11h e às quartas e aos sábados, das 6h às 11h30.
No evento foram expostos materiais produzidos por 13 artesãos de Realeza (UFFS/Ariel Tavares)
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