Mulheres negras na literatura e combate ao racismo são temas da Semana da Consciência Negra no Campus Realeza
As atividades foram realizadas nos dias 19 e 21 de novembro, em escolas da região, assim como na universidade

Publicado em: 22 de novembro de 2024 09h11min / Atualizado em: 22 de novembro de 2024 11h11min

Para celebrar o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, em 20 de novembro, a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) - Campus Realeza promoveu dois debates para ressaltar a representatividade da mulher negra na literatura e a importância do enfrentamento ao racismo em diferentes ambientes sociais. As atividades foram realizadas nos dias 19 e 21 de novembro, em escolas da região, assim como na universidade.

Uma das convidadas para o debate sobre literatura foi a escritora e jornalista sergipana Taylane Cruz, autora do livro de contos “As conchas não falam”, publicado este ano pela editora HarperCollins Brasil. No dia 19 de novembro, a escritora participou de debates com estudantes do Instituto Federal do Paraná (IFPR) – Campus Capanema, do Colégio Cívico Militar Dom Carlos Eduardo, de Realeza, e da UFFS. A conversa com os estudantes trouxe reflexões sobre a importância da representatividade da mulher negra na literatura e a relevância de se contar histórias que reflitam a diversidade de experiências negras no Brasil.

Escritora e jornalista sergipana Taylane Cruz em conversa com estudantes da UFFS (UFFS/Saulo da Paz)

Para a escritora, a literatura é uma ferramenta para encarar e transformar as marcas profundas da colonização e da escravização no nosso país. “Durante muito tempo, a perspectiva histórica e subjetiva das narrativas estava nas mãos, sobretudo, de homens brancos. Nós, autoras negras, trazemos para o centro da narrativa sujeitos que foram alijados pela história. Neste sentido, a literatura negra brasileira, com toda a sua pluralidade de vozes, está recontando a história do nosso país, desenterrando outras subjetividades”, explicou Taylane, reforçando que a literatura é uma poderosa aliada no combate ao racismo.

Outro debate realizado pela UFFS, no dia 21 de novembro, foi sobre negritude e antirracismo na universidade, com a participação dos professores da UFFS Flávia Pascoal Ramos e Emerson Martins, e da pedagoga da UFFS Andreia Florêncio Eduardo de Deus. Os três discutiram a importância do debate sobre racismo, identidade negra e as trajetórias pessoais no enfrentamento da discriminação. Além disso, reforçaram a importância de unir as pessoas negras, independentemente do tom de pele, na luta contra o racismo, assim como enfatizaram a responsabilidade das pessoas brancas na luta antirracista.

Durante o debate, a professora Flávia Pascoal Ramos destacou como o racismo pode afetar não apenas a vida pessoal, mas também a trajetória profissional e educacional. “Hoje em dia, a gente fala muito sobre essa ideia do 'tornar-se negro'. Muitas vezes, as pessoas negras, ao longo da vida, acabam negando suas características negras para se aproximar desse ideal da branquitude, que é visto como o padrão de beleza, o que deve ser alcançado para ser considerado bem-sucedido socialmente”, comentou, mencionando também a responsabilidade das pessoas brancas na luta antirracista, reconhecendo que essas discussões contribuem para provocar mudanças sociais.

Debate sobre negritude e antirracismo na universidade (UFFS/Ariel Tavares)

A pedagoga da UFFS Andreia Florêncio Eduardo de Deus falou também sobre o trabalho desenvolvido pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) da UFFS, no acolhimento e apoio aos estudantes, especialmente indígenas e quilombolas, no contexto da universidade. Durante os atendimentos, Andreia busca ser uma referência para os estudantes, já que compartilham experiências similares de preconceito e racismo. “Além dessas conversas, falamos sobre as questões legais, como o fato de que o racismo é crime, e os possíveis caminhos para denunciar situações de discriminação”, destacou.

Já o professor Emerson Martins compartilhou reflexões sobre o papel da família na construção da identidade negra, destacando a importância do apoio interno nas famílias. Outra situação destacada foi o impacto da tonalidade de pele na vivência da negritude, uma referência ao fenômeno da "passabilidade", onde pessoas negras com pele mais clara, muitas vezes, têm mais aceitação em espaços sociais e menos experiências de discriminação.

Na coordenação do evento, a professora Ana Carolina Teixeira Pinto enfatizou que debates como os propostos pela Semana da Consciência Negra da UFFS são importantes aliados no combate ao preconceito e na formação acadêmica. “Os debates promovem a reflexão crítica sobre as desigualdades raciais e a estrutura de poder que perpetua o racismo. Ao sensibilizar os estudantes sobre as experiências de discriminação e as formas de resistência, fortalecemos a capacidade de formar cidadãos comprometidos com a luta pela igualdade racial, essenciais para a transformação das instituições e da sociedade”, destacou.

Todas as atividades da Semana da Consciência Negra da UFFS contaram com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, Coordenação Adjunta de Cultura do Campus Realeza, Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) e o Projeto Clube de Leitura “Leia Mulheres Realeza”.

Denúncias na UFFS

Para denunciar atos discriminatórios, especialmente situações de racismo no ambiente universitário, é necessário formalizar a denúncia pela Ouvidoria da UFFS. As denúncias são anônimas e podem ser enviadas por e-mail (ouvidoria@uffs.edu.br), carta e através da Plataforma Fala.BR. Confira mais detalhes no site da Ouvidoria da UFFS. Também é possível fazer denúncias por meio da Comissão de Ética da UFFS, pelo e-mail etica@uffs.edu.br. Saiba mais sobre a comissão aqui.

Sobre o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra

A Lei 14.759/23 tornou feriado nacional o dia 20 de novembro, Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A data remete ao dia da morte de Zumbi, o líder do Quilombo dos Palmares, e já era feriado em seis estados brasileiros e em cerca de 1,2 mil cidades quando foi aprovada.

Para o professor Emerson Martins, este marco nacional reforça a necessidade de reflexão sobre a memória e resistência do povo negro, assim como o combate ao racismo no país. “Há uma expectativa dos movimentos sociais de que a pauta antirracista entre verdadeiramente nas agendas governamentais. Ter um marco nacional representativo possibilita a criação de momentos de inflexão política, reflexões, planejamento e ações de enfrentamento ao racismo e alavancamento de ações antirracistas”, enfatizou.

A data de 20 de novembro simboliza a resistência e a reflexão sobre a importância da ancestralidade dos povos africanos no Brasil. Além de fazer referência à morte de Zumbi, um dos grandes nomes da resistência negra contra a escravidão no Brasil. Zumbi foi morto em 1695, na referida data, em uma emboscada pelas tropas coloniais brasileiras.

O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra também busca chamar a atenção da sociedade para o enfrentamento ao racismo e propor a reflexão sobre suas consequências para a população negra, além de fortalecer mitos e referências históricas da cultura e trajetória negra no Brasil.