Publicado em: 24 de maio de 2021 14h05min / Atualizado em: 24 de maio de 2021 14h05min
A agricultura muitas vezes é reduzida a um negócio, a produção do campo é tendencialmente associada apenas ao seu potencial de mercado e, com isso, foram ampliadas suas parcerias. Mas há algum tempo, a sociedade cobra práticas sustentáveis e esse setor também precisou se adaptar. Para entender como a agricultura trabalha de forma sustentável, o especialista em Agroecologia e professor do programa de mestrado, Antônio Inácio Andrioli, explicou sobre essa área de pesquisa, ou seja, como “é possível combinar conservação da natureza e agricultura”.
De acordo com Andrioli, por muito tempo estamos acostumados a consumir produtos que são frutos da terra, mas nem sempre questionamos como os solos devem ser conservados. “O Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos e inúmeros alimentos são atingidos por esse tipo de prática”, explicou. Além disso, algumas monoculturas são fortemente marcadas pelas exportações agrícolas e que favorecem o uso de agrotóxicos, como o café, a soja e a cana-de-açúcar. “Nenhum país do mundo usa tanto agrotóxico como o Brasil. Em 2020, a utilização total de venenos agrícolas aumentou para cerca de 1 bilhão de quilogramas.” A estimativa para 2021 é um aumento de 10%.
A biodiversidade é fundamental para o equilíbrio do solo, por isso, a diminuição da sua fertilidade é uma das consequências negativas do uso de produtos químicos sintéticos na agricultura. Andrioli diz que “para lidar com esses problemas, a rotação de culturas seria a melhor opção. Espécies de plantas como o centeio, a cevada, o trigo, o tabaco e a aveia, por exemplo, liberam substâncias através das suas raízes ou durante sua decomposição que podem inibir a germinação e o desenvolvimento de ervas daninhas. Mas muitos produtores rurais não avaliam essa rotação como vantajosa, já que muitas das plantas importantes para o equilíbrio do solo não são comercializadas ou são menos rentáveis se comparadas às grandes monoculturas”, afirmou.
Além disso, com a grande quantidade de agrotóxicos utilizados, aumenta também o número de pessoas que são contaminadas, causando riscos à saúde de quem os consome. Andrioli relata o resultado de análises de água realizadas em 1.396 municípios brasileiros que identificaram 27 agrotóxicos em 25% das cidades do país e, destes, 21 (44%) não são autorizados na União Europeia, 16 estão classificados como extremamente ou altamente tóxicos, cinco ligados ao desenvolvimento de câncer e seis à malformação fetal e a problemas reprodutivos.
As populações mais atingidas pela contaminação de agrotóxicos são as indígenas e camponesas, pois estão sujeitas à expansão de monoculturas como a soja, que aumentou sua produção para 57% da área cultivável do Brasil em 2020. “A soja é exportada principalmente para a Europa e a China e o seu cultivo ameaça a sobrevivência das comunidades de agricultores e dos povos indígenas, cada vez mais empobrecidos, famintos e desapropriados das suas terras.” diz o professor.
Agroecologia e Economia Solidária
A Economia Solidária caracteriza-se como outro eixo que envolve a agricultura, pois não se trata de caridade ou de assistencialismo, mas de uma nova forma de organizar as atividades econômicas, que geram debate, um maior índice de empregabilidade e uma maior geração e melhor distribuição de renda em diferentes setores, principalmente através do cooperativismo. Para o professor, a Economia Solidária envolve “formas de organização social baseadas na propriedade coletiva, na solidariedade entre produtores e no direito à liberdade individual nas iniciativas econômicas''.
Para Andrioli, a Agroecologia, com a auto-organização dos agricultores e consumidores, é a única forma viável de produzir alimentos para o futuro. “Através da Agroecologia e da Economia Solidária é possível combinar a conservação da natureza com a agricultura, a tradição com a ciência, construindo uma forma de produção de alimentos adequada para as próximas gerações”, concluiu.
MESTRADO
Para interessados (as) em uma pós-graduação para discutir as questões relacionadas à Agroecologia e ao Desenvolvimento Rural Sustentável, a UFFS – Campus Laranjeiras do Sul está com as inscrições abertas para o mestrado nessa área.
São ofertadas até 20 vagas para ingresso no segundo semestre de 2021 e as inscrições devem ser realizadas, exclusivamente on-line, no período de 1º de maio a 7 de junho de 2021. Para mais informações acesse o edital abaixo.
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