Publicado em: 22 de agosto de 2024 13h08min / Atualizado em: 22 de agosto de 2024 13h08min
A experiência da pandemia mundial de Covid-19 transformou a forma como encaramos as doenças. As recentes notícias de um novo surto, vinculado a uma sigla até então não muito conhecida, a Mpox, acende um alerta e traz um novo motivo para preocupação. Para esclarecer o que é importante saber a respeito desta doença, conversamos com o professor Gustavo Olszanski Acrani, da UFFS – Campus Passo Fundo.
Conforme o professor, Mpox é a sigla do nome de um vírus que em inglês é chamado Monkeypox, e que no Brasil foi inicialmente traduzido como Varíola dos Macacos. Em maio de 2022, após um surto da doença no país, a Sociedade Brasileira de Primatologia relatou que “o atual surto não tem a participação de macacos na transmissão para seres humanos. Todas as transmissões identificadas até o momento pelas agências de saúde no mundo foram atribuídas à contaminação por transmissão entre pessoas”. No mesmo ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS), com receio da associação da doença com os macacos e com medo dos ataques da população assustada contra a fauna silvestre, decidiu por adotar o termo Mpox, no lugar de Varíola dos Macacos.
“Hoje, sabe-se que a transmissão da Mpox ocorre por contato entre seres humanos, através de beijos, secreções infectadas das vias respiratórias, feridas ou bolhas na pele da pessoa infectada, e relações sexuais. O compartilhamento de objetos contaminados com fluidos do paciente ou materiais da lesão também são importantes fontes de contágio. Pessoas com Mpox são consideradas infecciosas até que as erupções cutâneas tenham formado crostas e que as lesões nos olhos e no restante do corpo (boca, garganta, olhos, vagina e ânus) cicatrizarem, o que geralmente leva de duas a quatro semanas”, comenta Acrani.
Sintomas e tratamento
“Os sintomas mais frequentes são: cansaço, fraqueza, febre, calafrios, dor de cabeça, dor no corpo, ínguas e, principalmente, bolhas ou feridas/erupções na pele. Quando se manifestam, as lesões na pele podem durar de duas a quatro semanas. O Ministério da Saúde alerta que, ao sentir algum sintoma suspeito que possa ser compatível com a doença, a pessoa deve procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) ou Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Nesse momento é bem importante o indivíduo informar se já teve contato com alguém com suspeita ou confirmação da doença. Muitos dos sintomas se confundem com outras doenças virais, então o diagnóstico preciso da Mpox é realizado após coleta de amostra e envio do material para um laboratório de referência, para que seja realizado o teste molecular que permite identificar a presença do material genético do vírus em uma amostra”, pontua Acrani.
Fake news
Infelizmente, a Mpox já foi alvo de fake news. Circulou nas redes sociais a informação de que a doença seria um efeito colateral da vacina Astrazeneca, utiliza para a imunização contra a Covid-19. O professor afirma que “a Mpox não é um efeito colateral da vacina de Covid e nem de qualquer outra vacina já testada ou utilizada em larga escala. É importante também mencionar que em hipótese alguma uma vacina utilizada pode vir a dar origem a algum novo surto de alguma doença, como é o caso da Mpox”.
“Devemos ter cuidado na leitura das notícias, pois devemos confiar somente naquelas cuja fonte for fidedigna. Os vírus que causam doenças em humanos, como o Mpox, surgiram através de um processo que pode ser chamado de ‘pulo de hospedeiro’. Recentemente vimos isso acontecer com o SARS-CoV-2. Os vírus produzem novas partículas virais através da cópia de seu material genético, e fazem isso de maneira muito rápida, o que aumenta a probabilidade de surgirem mutações no seu genoma. Eventualmente, essas mutações podem permitir que um vírus que era específico de um determinado animal na natureza, possa acessar um novo hospedeiro (no caso, seres humanos) e causar uma nova doença. Além da Covid-19 e Mpox, outros vírus tiveram sabidamente suas origens em reservatórios animais, como Raiva, Gripe e HIV, para citar alguns. Além disso, é importante lembrar que o primeiro caso humano de Mpox foi identificado em uma criança na República Democrática do Congo, em 1970, muito tempo antes da vacina da Covid-19 ter sido elaborada”, ressalta Acrani.
Vacina
De acordo com o professor, existe vacina para a Mpox. “O Brasil tem vacinas estocadas, as quais têm sido administradas desde março de 2023, devido ao surto inicial de Mpox que ocorreu em 2022. A vacina é a mesma utilizada para a imunização contra a Varíola, feita de um vírus da Varíola (da mesma família do Mpox), que foi atenuado em laboratório. Esse vírus vivo e enfraquecido não é capaz de causar Varíola, nem Mpox e nenhuma outra doença quando aplicado nos indivíduos. Por ter uma estrutura muito parecida com a do Mpox, o imunizante consegue ‘enganar’ o sistema imune do hospedeiro, que fica protegido contra uma eventual infecção pelo Mpox. Essa vacina é derivada de uma das mais antigas e seguras que existem. Em tempos modernos, foi aplicada em massa no início do século passado, o que provocou a erradicação da varíola no mundo todo”, comenta.
Atualmente, para controle da Mpox, a OMS sugere que apenas indivíduos que estão em risco, como aqueles que tiveram contato próximo com uma pessoa infectada ou pertencem a um grupo de alto risco, devem ser considerados para a vacinação. No Brasil, apenas pessoas que vivem com o vírus HIV, profissionais de laboratórios que trabalham diretamente com o vírus e equipes de saúde específicas vão receber as doses pré-exposição. O restante da população será vacinada caso tenha tido contato com pessoas infectadas.
De acordo com o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, não há necessidade de uma campanha de vacinação de larga escala, pois “são vacinas seguras e extremamente eficazes, mas a quantidade de doses disponível é pequena. Os imunizantes ficam para os grupos mais vulneráveis, que correm maior risco de quadros graves da doença”. No caso de necessidade, a vacina é administrada em duas doses, com intervalo de 28 dias.
Imunização
O professor Acrani afirma que estudos atuais têm mostrado que quem já foi vacinado contra a Varíola está imunizado contra a Mpox. “Como a vacina contra Mpox usada hoje é derivada da mesma vacina aplicada no século passado contra a Varíola, acredita-se que pessoas que foram vacinados para Varíola estejam protegidos. Estudos apontam que a vacinação contra a Varíola Humana (Smallpox) é cerca de 85% eficaz na prevenção da Mpox. No entanto, é importante mencionar que, graças aos esforços mundiais das organizações de saúde e da população, o vírus da Varíola Humana foi erradicado no planeta (a primeira doença humana a ser eliminada no mundo). Os últimos casos de varíola foram reportados em 1979 e, portanto, a vacinação contra a doença foi interrompida em 1980. Indivíduos que nasceram após essa data não foram imunizados e, como a doença foi eliminada no mundo todo, atualmente não existem muitas doses das vacinas disponíveis para o público em geral. Porém, apesar dessa possível proteção, é importante que todos, imunizados ou não, adotem medidas para se proteger e proteger as outras pessoas contra a Mpox”, explica.
Confira mais informações sobre a Mpox em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-com-ciencia/noticias/mpox-entenda-o-que-e-a-doenca-e-as-formas-de-prevencao
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