Publicado em: 10 de março de 2011 12h03min / Atualizado em: 20 de março de 2017 16h03min
O vice-reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Antônio Inácio Andrioli, viaja na próxima semana para a Alemanha para acompanhar o lançamento de um documentário do qual é personagem. O roteiro também inclui 16 palestras sobre o assunto pesquisado por ele, a transgenia.
O filme “Verdade Comprada: A transgenia no campo magnético do dinheiro” (tradução livre alemão-português), de Bertram Verhaag, retrata um pouco dos estudos e da perseguição sofrida por cinco pesquisadores da transgenia. Além de Andrioli, participam do documentário Ignacio Chapela, mexicano; Árpád Pusztai, húngaro; Jeffrey Smith, norte-americano; e Andrew Kimbrell, também norte-americano.
O contexto das discussões acirradas na Alemanha, os estudos científicos desenvolvidos para a tese de doutorado que abordou a soja orgânica versus soja transgênica (Universidade de Osnabrück, Alemanha), os debates públicos e até a perseguição sofrida enquanto atuou na Universidade Johannes Kepler (Áustria) fazem parte dos motivos para que Andrioli fosse personagem do documentário.
Organizador do livro “Transgênicos: As sementes do Mal – A silenciosa contaminação de solos e alimentos” juntamente com Richard Fuchs, Andrioli tornou-se referência no assunto transgenia depois de ter sido premiado na Alemanha como estudante estrangeiro do ano 2003 pelo DAAD (Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico), o que o levou a debater o assunto com o então chanceler alemão Gerhard Schröder em rede de televisão nacional e participar de eventos internacionais importantes a respeito do tema, ganhando notoriedade na Europa como pesquisador crítico aos alimentos geneticamente modificados.
O referido livro inicia fazendo referência à história da morte de nove vacas tratadas com milho transgênico em uma pequena cidade da Alemanha, em 2002. Com a denúncia e os relatos da pesquisa de Andrioli, o livro ganha vulto e o debate dos transgênicos entra de vez na agenda europeia. O prestígio internacional do autor na Europa culmina com a apresentação de um relatório sobre o assunto na Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, e a ministrar palestras em mais de 300 cidades naquele continente.
Um dos debates em que o pesquisador participou em Zurique, foi filmado pela equipe de Bertram Verhaag. O diretor e produtor ficou interessado na história de Andrioli e buscou contato com ele, após ter recebido notícias de represálias sofridas pelo pesquisador na universidade na qual atuava e sobre seu retorno ao Brasil. O filme, lançado inicialmente em inglês, ainda não tem previsão para ser apresentado no Brasil.
Para Andrioli, é preciso repensar o tipo de ciência que atualmente é desenvolvida nas pesquisas sobre transgenia. Segundo ele, cerca de 90% dos pesquisadores da área dos transgênicos são financiados pelas multinacionais interessadas na comercialização desses produtos, o que prejudica a autonomia do trabalho científico. Andrioli avalia que é papel fundamental da universidade garantir a liberdade de pesquisa, num “movimento em favor da ciência”.
Já na prática da agricultura, ele aponta que a coexistência entre cultivos transgênicos e convencionais é impossível. O cultivo de orgânicos, entretanto, seria a opção mais viável, já que esses produtos têm maior valor no mercado e menor custo de produção. A dificuldade, segundo ele, na região pesquisada para sua tese (Noroeste do Rio Grande do Sul), era a contaminação das plantas orgânicas pelas transgênicas dos vizinhos. Conforme constatado por ele, em 2005 naquela região, 73% dos agricultores cultivavam transgênicos.
Mais informações sobre o filme estão disponíveis no site http://www.gekauftewahrheit.de/ Sobre a versão em inglês, as informações estão disponíveis no site http://scientistsunderattack.com/
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