Publicado em: 27 de maio de 2021 10h05min / Atualizado em: 27 de maio de 2021 11h05min
A Universidade Federal da Fronteira Sul passa a fazer parte da campanha em prol da duplicação da BR-282. A ação é uma iniciativa do Grupo Condá de Comunicação e recebeu apoio de parceiros de todos os municípios localizados às margens da rodovia.
Para explicar sobre a importância dessa rodovia, principalmente sua importância econômica, convidamos o professor do curso de Administração da UFFS – Campus Chapecó e economista Darlan Christiano Kroth. Leia abaixo a entrevista com o professor:
UFFS - Considerando que a BR-282 é uma das principais rodovias de Santa Catarina, que liga o oeste com a capital, que é o ponto de acesso à Argentina e é considerada a principal via do Mercosul, o que significa a duplicação dessa rodovia?
Darlan Christiano Kroth: A revitalização (em especial a duplicação) da BR-282 é uma obra estratégica para o desenvolvimento socioeconômico da região Oeste de SC e para o estado como um todo. A região Oeste é responsável pela maior produção agroindustrial do estado (representando cerca de 70% da produção de suínos e aves e de leite), sendo que o estado é o maior exportador de suínos e um dos maiores exportadores de aves do Brasil. No PIB estadual, a região Oeste representa pouco mais de 20%.
Toda essa produção agroindustrial (que recebeu importantes investimentos nos últimos anos e ampliou sua capacidade produtiva) depende de transporte rodoviário e, portanto, em praticamente todas as etapas da cadeia produtiva (incluindo o translado até os portos), passa necessariamente por algum trecho da BR-282.
Salienta-se, ainda, que a região Oeste contempla 118 municípios (representando 40% dos municípios do estado) e possui de 1,5 milhão de pessoas que, direta ou indiretamente, dependem da BR-282 para sua mobilidade/deslocamento dentro do estado e entre municípios, contribuindo para o acesso de produtos e serviços.
Nestes termos, a duplicação da BR-282 representa tanto uma maior competividade econômica, pois reduz os custos logísticos para os empreendimentos regionais, como maior bem-estar aos municípios e respectiva população, em virtude de favorecer a mobilidade e acesso a bens e serviços.
Com relação à economia regional, podem ser levantados alguns pontos adicionais que merecem atenção, como:
a) O fato de o principal modal logístico ser o rodoviário, acaba também ativando economicamente o setor de transportes, como serviços de frete e de manutenção de caminhões, que é um setor bem representativo na geração de emprego e renda da região Oeste.
b) A viabilização da Rota do Milho, importante trajeto para escoamento de grãos para a agroindústria, que conecta o Brasil com Argentina e Paraguai, depende, de certa forma, de uma rodovia que sustente esse maior movimento de cargas. Nessa perspectiva, a duplicação da BR-282 contribuirá significativamente para ampliar a competitividade da agroindústria e, por sua vez, auxiliará na melhoria das exportações estaduais;
c) A duplicação da BR-282 terá grande potencial de estimular o turismo regional e estadual. Por um lado, ampliará o movimento de pessoas na região Oeste, criando muitas oportunidades. Por outro lado, contribuirá para a entrada de turistas estrangeiros (sobretudo argentinos), que utilizam a BR como corredor para o litoral.
O movimento dos meios de comunicação em prol dessa obra é um grande avanço em relação aos desdobramentos que possam ocorrer, quais são as principais medidas a serem tomadas?
Vivemos um momento especial em termos de ter grande representação política da região Oeste nos governos Estadual (vice-governadora, deputados estaduais, incluindo o presidente da ALESC, e secretários estaduais) e Federal (deputados federais).
Portanto, o movimento é de unir forças para viabilizar os recursos necessários para esse tipo de investimento. Um grande passo para essa união foi dado ainda em 2019, quando esses representantes políticos se juntaram (“bancada do Oeste”) e defiram algumas obras prioritárias para a região: BR-282, BR-163, SC-283, Aeroporto de Chapecó, Aduana de Dionísio Cerqueira e Hospital Regional do Oeste.
Os meios de comunicação possuem o papel de catalisar esse movimento de união, não só entre políticos, mas entre instituições e população regional, dando visibilidade a esse tipo de investimento e trazendo informações científicas que demonstram a importância socioeconômica desse tipo de obra.
Um dos próximos passos é ampliar esse movimento, para aglutinar outras lideranças e entidades regionais, como associações industriais e comerciais, universidades, associações de municípios, movimentos sociais e sindicatos, com o objetivo de priorizar essa obra no orçamento público.
De acordo com a PRF, em torno de 30 mil veículos circulam diariamente no trecho considerado mais movimentado, de Chapecó a Xanxerê, esse grande número de veículos decorre também do fato dos serviços hospitalares e do agronegócio serem centrados no oeste. Considerando as informações, o que poderia ser feito, de imediato ou com maior rapidez, para a melhoria desse trecho?
De imediato e urgente, seria a finalização das obras de revitalização e de ampliação de trechos com terceira pista (iniciados em 2019), bem como providenciar melhorias nos acostamentos (viabilizando maior segurança para os veículos, pedestres e ciclistas), na sinalização (pintura de faixas e placas) e nos acessos aos municípios que estão às margens da BR (trevos e passarelas).
No oeste, são visíveis os problemas estruturais da BR-282, questões como pista simples, muitas curvas, falta de acostamento e imperfeições na pista são as principais causas de lentidão e congestionamento no trânsito. Com a duplicação da rodovia, isso pode ser alterado?
A duplicação da BR proporcionará maior segurança e fluidez do tráfego.
O governo de SC informou que, até o momento, a maior dificuldade são questões orçamentárias. Isso pode ser prejudicial ao início das obras em toda a rodovia?
Como a rodovia é federal, os recursos devem ter origem do governo federal. No entanto, o governo estadual sinalizou que tem interesse em contribuir (o que seria um grande avanço dentro da perspectiva do pacto federativo).
Com relação ao orçamento federal, destaca-se que o orçamento aprovado para 2021, contempla R$ 144,4 bilhões para investimentos, acima dos orçamentos para a educação e para a saúde, que receberam R$ 119,6 e R$ 125,7 bilhões, respectivamente, o que demonstra que há interesse em obras públicas.
Formas alternativas (e/ou complementares) ao orçamento público, são as parcerias público-privado (PPP), que se por um lado permitem maior agilidade em viabilizar determinados investimentos, por outro lado carecem de maior escrutínio público para discutir os termos dos contratos, pois impactam em custos adicionais para a sociedade (em termos de pagamentos de pedágios) e possuem caráter de longo tempo (20, 30 anos).
Considerando que o Estado de Santa Catarina tem forte influência econômica no país, o que o governo federal deve fazer para auxiliar a demanda além de fornecer valores adequados às obras?
Priorizar essa obra no orçamento e viabilizar os recursos para a obra.
Importante mencionar dois pontos aqui. O primeiro refere-se ao fato de que o estado catarinense é um dos maiores contribuintes do país (em termos de geração de receitas para o governo federal). Em 2020, Santa Catarina foi o sétimo estado que mais gerou receitas. Por outro lado, nesse mesmo ano, Santa Catarina foi apenas o 24º em recebimento de transferências federais (dados Receita Federal e Tesouro Nacional, 2020). Situação essa que vem se manifestando há vários anos. Ou seja, há espaço para argumentar em favor de uma obra fundamental para o desenvolvimento estadual e que beneficiará o país como um todo, em termos de ampliação da produção e exportação.
O segundo aspecto a destacar é que tal obra possui um grande efeito dinâmico sobre toda a economia estadual, em termos de geração de emprego e renda. Estudo de Cancelier (2013), realizado a partir matriz insumo-produto (dados que servem para a elaboração do PIB), evidenciou que o setor agroindustrial (abate de animais) de SC, possui um dos maiores multiplicadores de produção do Estado, na ordem de 2,46. Isso é, para cada um R$ 1,0 investido no setor, ele gera R$ 2,46 na economia estadual, sendo que R$ 1,98 refere-se ao efeito direto, que incide sobre a própria atividade agroindustrial (1,98) e R$ 0,48 sobre os demais setores econômicos. Ou seja, os investimentos na BR-282, que contribuirão para estimular a economia regional (com destaque para a agroindústria), possuem a capacidade de impulsionar o crescimento da economia estadual como um todo, reforçando, portanto, a importância dessas atividades na dinâmica econômica do estado e justificando investimento na região.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, além de todos os problemas já citados, a BR-282 é a que mais tem ocorrências de acidentes com mortes. A melhoria dos fatores estruturais certamente serão um auxílio na diminuição dessa periculosidade. Após as obras, os condutores poderão trafegar de forma segura e com mais confiabilidade nos principais trechos?
Sim, com toda certeza.
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