A professora Vanderleia explica que há um conjunto de preocupações que o Dossiê evidencia na análise das pesquisas realizadas. “O dossiê está dividido em várias partes. Inicia com pesquisas e as evidências dos danos dos agrotóxicos na saúde reprodutiva, mediante uma revisão da produção científica realizada no Brasil ao longo de 43 anos, desde 1982. Por ainda ser um problema negligenciado pelas políticas públicas, é necessário que tais evidências sejam reconhecidas no seu devido contexto, onde ocorrem os processos de determinação social da saúde”, enfatiza.
Na sequência da obra, é apresentado o marco legal e o processo de desregulação do agrotóxico no Brasil, com análise do contexto e os fundamentos que antecederam à produção agrícola químico-dependente, os agrotóxicos não só na produção agropecuária, mas a gravidade da exposição nas áreas urbanas. Assim como as tendências gerais observadas no sistema regulador dos agrotóxicos no Brasil, as implicações dos recentes retrocessos no sistema regulador dos agrotóxicos no Brasil, além da avaliação de risco: origens, propósitos e limites.
O Dossiê traz, ainda, a abordagem dos agrotóxicos, contextos nocivos e ações de saúde, “evidenciando a importância da vigilância integrada, participativa e territorial da saúde de populações expostas aos agrotóxicos, cuidando da saúde reprodutiva”, diz a professora. Ela afirma que são tratadas também as nocividades à saúde do modelo químico-dependente de combate vetorial, as reflexões e recomendações para vigilância da saúde de populações expostas aos agrotóxicos e os sistemas e outras fontes de informação para análise da situação de saúde, trazendo elementos sobre o sistema de informação em saúde para vigilância e cuidado de populações expostas aos agrotóxicos.
São apontadas, também, denúncias do uso dos agrotóxicos contra camponeses assentados, indígenas aldeados e populações tradicionais e casos ocorridos nas comunidades dos estados do Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Ceará. Há, ainda, uma reflexão sobre a pulverização de agrotóxicos e a violação de direitos e como é possível a construção de caminhos para a reparação integral. A última parte apresenta “uma análise sobre as falácias usadas para confundir, enganar e esconder que os agrotóxicos são venenos e a importância da Saúde Coletiva como um campo de conhecimento crítico e de ação transformadora e sua relação com os movimentos sociais em defesa da vida”, destaca Vanderleia.
Para a professora da UFFS, este Dossiê, assim como o anteriormente publicado pela Abrasco em 2015, e as demais publicações, “são fundamentais para a compreensão do que são os agrotóxicos, os riscos e danos que provocam à saúde e ao ambiente, assim como, os interesses que se escondem em falácias para que a população não veja a realidade como de fato ela se apresenta. É preciso cuidar da saúde das mulheres, das crianças, de toda a população e pensar formas de produzir, de viver e de desenvolvimento da sociedade onde a vida e a saúde sejam a expressão e o resultado das ações e das políticas”.