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Como a Inteligência Artificial tem “circulado” no ambiente acadêmico?

Docentes Julyane Felipette Lima e Marcus Vinicius Liessem Fontana comentam sobre suas impressões a respeito do uso da IA na universidade

Diretoria de Comunicação Social — 24 de Junho de 2025 — Atualizado em 24/06/2025

Como a Inteligência Artificial tem “circulado” no ambiente acadêmico?

A popularização do acesso a ferramentas de Inteligência Artificial (IA) é um fenômeno recente, mas seus efeitos já são consideráveis. Há quem já veja a pesquisa no buscador Google como algo obsoleto, após a criação do ChatGPT. Imagens e vídeos gerados por IA dominam as redes sociais, com um nível de realismo que chega a confundir os usuários. No ambiente universitário a IA também trouxe mudanças, para falar um pouco sobre como tem sido a relação com esta novidade tecnológica, convidamos a professora Julyane Felipette Lima, da UFFS - Campus Chapecó, e o professor Marcus Vinicius Liessem Fontana, do UFFS - Campus Cerro Largo. 

O professor Marcus afirma que a IA tem se tornado muito presente na sala de aula, mas ainda há estudantes pouco ou mal informados sobre ela. “Sua presença se manifesta nos trabalhos entregues por alguns alunos de forma muito evidente. Como ensino língua espanhola, tenho encontrado produções que são evidentemente criadas por IA. Um professor conhece as potencialidades e as debilidades de seus alunos e causa verdadeiro espanto quando um aluno com evidentes dificuldades traz um trabalho perfeito do ponto de vista linguístico”, comenta.

“Como as IAs com que os alunos trabalham são modelos de linguagem, costumam ter uma escrita muito adequada. Ocorre, contudo, que algumas marcas linguísticas são muito evidentes para quem pesquisa na área, como é meu caso, ou mesmo para quem está acostumado com a ferramenta. É impossível negar o uso da IA Generativa na maioria dos casos detectados. Há, por outro lado, pequena parcela de alunos que estão aprendendo a lidar com a IA de forma inteligente, como um apoio e não como um substitutivo”, destaca Marcus.

A professora Julyane comenta que percebe em seu dia a dia em sala de aula o uso da IA como um apoio para dar “melhores” ideias para os estudantes, em especial no momento de iniciar os trabalhos, e também para a revisão de concordâncias. “Os estudantes usam IA para todas as coisas protocolocares, como fazer slides, apresentações e designs. O que me preocupa é que, em inúmeros casos, eles estão usando indiscriminadamente, deixando-a raciocinar por eles, o que torna os processos de aprendizagem enviesados”, afirma. Julyane considera que os grandes problemas gerados pelo uso inadequado da IA são: “plágio, falta de crítica quanto as respostas elaboradas e a falta de leitura dos grandes clássicos”. 

Auxílio

Para Marcus, “a IA pode servir como um consultor, como um assistente. Usar adequadamente a IA implica muito mais aprender a fazer perguntas inteligentes do que propriamente esperar respostas prontas a partir de perguntas bobas. Quanto mais complexificamos as perguntas, mais abrangentes e profundas são as respostas. Mas é claro: os modelos de IA Generativa, hoje, têm limites. A inteligência humana ainda é a melhor ferramenta na solução de problemas complexos”.

“Algo que chama a atenção na produção de textos acadêmicos com auxílio de IA é sua dificuldade de gerar ou indicar referências fidedignas. Vejo, basicamente, três tipos de referências que a IA traz: 1. as referências canônicas, com autores consagrados, mas que não raro são inventadas, colocando palavras na boca dos pesquisadores; 2. referências importantes, mas com dados equivocados, por exemplo, atribuindo obras a autores que nunca as escreveram, confundindo autorias e autores; 3. referências irrelevantes com artigos pouco significativos. Não aconselho a ninguém buscar referências com apoio de IA. O bom e velho livro ainda é nosso melhor apoio na pesquisa bibliográfica e no referencial teórico”, afirma Marcus.

Julyane comenta que, como docente, utiliza a IA para “pensar em cronogramas das aulas, montar formas de tornar as aulas mais atrativas e interessantes, para adequação de linguagem ao perfil da turma. Treinei alguns agentes para me ajudarem com as legislações da universidade e para a parte dos designs”.

O professor Marcus comenta que “a IA, de maneira geral, acelera os processos mais mecânicos dos afazeres docentes. Por exemplo, não utilizo IA quando quero produzir um artigo. Tenho convicção de que o processo de reflexão que faço a IA não é capaz de desenvolver, mas quando preciso relembrar algum conceito específico de forma rápida, algo que eu já saiba, mas que está escondido em alguma gavetinha da memória por falta de uso, não hesito em pedir auxílio. Caso a resposta me deixe em dúvida, abandono temporariamente a demanda e busco a resposta mais tarde em fontes confiáveis, mas se a resposta ativa minha memória e a reconheço, então, a uso”.

 “Também posso usar a IA para sugerir, por exemplo, a organização dos temas das unidades didáticas de uma determinada disciplina, ajudando-me a organizar o tempo. Posso mesmo dialogar, digamos, sobre critérios de avaliação: a IA costuma trazer ideias interessantes quando já temos critérios mais ou menos estabelecidos e queremos detalhá-los. Enfim, tudo isso sempre contando com a IA como apoio, com muito critério e aproveitando a experiência humana que só nós temos. Não dá para aceitar tudo que ela entrega, de forma irrefletida”, enfatiza Marcus.

Cuidado

Marcus pontua que a ferramenta de IA precisa sempre ser usada com parcimônia e com criticidade. “As chamadas ‘alucinações’ da IA são prova disso. Não é incomum que o sistema entregue falsas respostas. Precisamos lembrar que a IA Generativa é um instrumento linguístico para gerar respostas. Ela vai fazê-lo custe o que custar, mesmo que, para isso, precise entregar uma resposta falsa”.

“Obviamente, com a quantidade de informação disponível nas redes hoje em dia, as IAs vêm se aperfeiçoando constantemente e é possível que, em dado momento, cheguem a um nível maior de precisão. Mas aí também precisamos observar o outro lado. Por exemplo, países como Finlândia e Coreia do Sul, que apostaram todas as suas fichas em educação digital, tiveram que dar um passo atrás. Pesquisas têm demonstrado que a dependência acrítica de ferramentas digitais prejudica os processos cognitivos e a aprendizagem”, diz o professor. 

“Por exemplo, é muito diferente, para nosso cérebro, os mecanismos de digitar e de escrever à mão. O segundo favorece nossos processos cognitivos, pois são muito mais sinapses colocadas em jogo. O perigo com a IA é justamente a acomodação. De forma alguma podemos matar nossa criatividade, nosso espírito crítico e ficar à mercê de uma máquina. Ela deve ser sempre um apoio, não um substituto do ser humano”, ressalta Marcus.

Conferência

Como saber se um trabalho acadêmico foi criado por IA? Há diversas ferramentas com a proposta de averiguar o uso dela. Julyane diz que testou várias, mas nenhum tinha a “acurácia necessária”. Marcus afirma que conhece diversas e que há outras em desenvolvimento, mas não recomendaria nenhuma. “As próprias IAs podem ser usadas para identificar suas criações. O problema é que a linha é muito tênue. Por exemplo, se eu uso partes do texto de uma IA e vou alterando com meu próprio estilo, mudando algo aqui e algo ali, é possível que a ferramenta não detecte", informa.

"Por outro lado, há pesquisas que sugerem a possibilidade de muitos falsos positivos. Por exemplo, em determinado estudo feito com estudantes estrangeiros de língua inglesa, foi detectado um número relevante de produções feitas com IA. Ao se investigar mais a fundo, percebeu-se que pouquíssimos daqueles estudantes tinham usado, de fato, a IA, mas sua forma de escrita, mais ‘quadradinha’, atrelada à norma e sem referências culturais suficientes para o uso de uma linguagem mais ‘relaxada’, mais fluida, levou a ferramenta a esses falsos positivos. É complexo. Ainda confio mais na experiência e no olhar dos professores do que nesse tipo de ferramenta”, pontua Marcus.

Desafios

Marcus considera que o letramento digital é a melhor solução para estudantes e docentes encararem os desafios trazidos pela IA. “Hoje, já se fala em letramento em inteligências artificiais. Não dá para fechar os olhos. Há professores que creem que pedir trabalhos à mão vai solucionar o problema. Não vai. Os professores precisam estudar, colocar-se em dia com seu tempo, com sua época. Precisam estar preparados. Negar o digital, negar a IA é uma atitude infantil. Professores bem preparados para lidar com essa realidade são capazes de orientar seus alunos nesse mesmo sentido”, considera. 

A professora Julyane considera que é preciso “trazer nossos docentes e discentes para dentro dos movimentos de inovação. Ao contrário do que muitos pensam, estes não estão ligados ao uso massivo de tecnologia dura, mas sim ao retorno ao que nos faz humanos, nossos processos criativos. É fundamental estarmos próximos às necessidades do ecossistema socioeconômico que está ao nosso redor”. 

“Tem muita gente que fala de ‘nativo digital’. Esse é um conceito que precisa ser relativizado. Não é porque nasceram na era do digital que nossos alunos dominam de forma adequada as tecnologias digitais. Fazer dancinhas no TikTok não prepara ninguém para o uso acadêmico das tecnologias. Há uma longa distância entre manusear tecnologias e usá-las de forma produtiva na academia. Se os professores não estão preparados para o mundo de hoje, será muito difícil que os alunos consigam aproveitar sua habilidade potencial de forma adequada, por falta de orientação”, finaliza Marcus.

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