A presença crescente da inteligência artificial (IA) no dia a dia dos profissionais exige mudanças profundas na formação em Administração. É o que reflete a professora Kelly Tosta, da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Chapecó. Para ela, o momento é de revisão: de currículos, de práticas pedagógicas e da própria compreensão sobre o papel do administrador frente às novas tecnologias.
A IA deve ser encarada como “coprodutora de conhecimento e não somente como uma ferramenta, dado que a IA consegue reproduzir processos cognitivos padrão. Isso demanda o desenvolvimento de competências para os profissionais que permitam ir além dos processos padronizados e sejam capazes de análise crítica”, defende ela.
Na visão da professora, essa mudança precisa estar refletida tanto nos conteúdos curriculares quanto nos métodos de ensino-aprendizagem, com mais diálogo com a sociedade e foco na resolução de problemas reais. “É preciso abrir a universidade para ouvir as demandas reais da sociedade. A curricularização da extensão abre uma porta para isso. Também é necessário aplicar metodologias que tornem o processo de aprendizagem mais significativo e dialógico”, destaca.
A professora também ressalta que o papel do administrador está em transformação. Com a IA assumindo tarefas operacionais e repetitivas, o profissional passa a atuar de forma mais estratégica, o que exige o desenvolvimento de novas competências. De qualquer forma, “seguem valorizadas as competências empreendedoras, em especial as softskills que humanizam os processos”.
Negar ou proibir o uso da inteligência artificial no ambiente universitário, segundo ela, não é uma opção. “Não se pode negar o uso ou simplesmente proibir. O caminho é ensinar os futuros profissionais a usar a IA de forma inteligente, ensinar a fazer boas perguntas para obter boas respostas”.
A professora também alerta para os riscos de uma formação que ignore esse debate. Formar administradores sem discutir IA é “formar profissionais obsoletos, desconectados da realidade do mercado e da sociedade”, finaliza Kelly.
As reflexões da professora Kelly foram apresentadas durante sua participação como debatedora na mesa “Da Educação à Prática: IA como Aliada na Formação Estratégica do Profissional de Administração”, no evento promovido pelo Conselho Federal de Administração (CFA), em Florianópolis, em comemoração aos 60 anos da regulamentação da profissão. Também foram painelistas, Patrícia de Sá Freire, Julio Rezende e Domingos Sávio Spezia, e a mediação foi de Isabela Regina Fornari Muller.