Promover o conhecimento por meio da arte, aproximar o fazer artístico da produção de conhecimento, além de reforçar vínculos entre a UFFS – Campus Chapecó e a comunidade externa. Criado e coordenado pela professora Rubi Iara Garcia Vieira, ao longo dos últimos anos, o projeto tem parcerias com o Coletivo Transcender – grupo de jovens transgêneres da cidade de Chapecó -, e com a UNA-LGBT de Chapecó.
“A proposta nasceu da vontade de formalizar uma prática que já vinha sendo construída há mais de uma década, principalmente a partir da minha experiência em sala de aula com as Ciências Sociais”, explica a professora. “Sempre acreditei que a arte, além de expressão, é uma potente ferramenta de conhecimento.”
O projeto, que segue ativo até 2026, articula ações com foco em performance, produção artística estudantil e intervenções culturais. A professora explica que o trabalho parte de três pilares pedagógicos: orientação, execução e avaliação. Em vez de reproduzirem conteúdos, os estudantes são provocados a expressarem experiências e reflexões por meio da arte: seja ela teatral, visual ou performática.
“A arte permite a le estudante se enxergar no processo de aprendizagem, traz a dimensão afetiva para o centro. A produção artística funciona como uma forma legítima de produção de conhecimento”, afirma Rubi.
O projeto também entra em sala de aula, com a realização de projetos em que os estudantes criam obras autorais, como performances, textos encenados, instalações e jogos teatrais. Os trabalhos têm sido desenvolvidos em cursos variados nos quais a professora leciona – de Letras e Pedagogia até Agronomia e Computação. Para ela, isso revela a potência da arte mesmo em formações tradicionalmente técnicas. “É curioso que muitas vezes as maiores resistências vêm dos cursos de Ciências Humanas, e não das áreas exatas”, comenta a professora.
Segundo Rubi, os efeitos das práticas artísticas em sala de aula vão além do conteúdo acadêmico. “Estudantes que antes se mostravam apáticos passam a se envolver, se entregar e se emocionar. É um processo que estreita a relação pedagógica e gera conexões reais entre os estudantes, formando até laços de amizade”, conta.
Projetos em andamento e impacto social
Mesmo após o término da vigência da bolsa de extensão, as atividades seguem ativas. Atualmente, está em fase final de organização a exposição digital “Corpo Transgressor”, idealizada pelo estudante de Letras Martin Keni da Fonseca, com orientação da professora Rubi. A mostra trará obras de cinco artistas visuais trans e será exibida nas telas da UFFS – Campus Chapecó, com curadoria voltada para a representação do corpo como potência expressiva e política.
Outra iniciativa foi a inserção na Conferência Municipal dos Direitos das Pessoas LGBT+, em março de 2024. O projeto trouxe a artista e militante Eliane Sallas, de Florianópolis, como conferencista de abertura. “Foi um momento importante para destacar as políticas de arte e cultura como instrumentos do movimento LGBTQIA+”, relembra Rubi.
O projeto também conquistou recursos por meio do edital da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, que viabilizou a performance “Marretada Trans” durante a Parada LGBTQIA+ de Chapecó de 2024. A ação contou com a participação de seis integrantes do coletivo Transcender e, segundo a professora, provocou forte repercussão emocional no público.
Na performance, um muro cênico foi destruído com marretas. Sobre os escombros, um jardim foi plantado, representando o renascimento a partir da resistência. “O público chorava, se emocionava, se identificava. Um dos participantes me disse que foi o melhor dia da sua vida”, relata a professora. A apresentação gerou, ainda, uma videoarte documentando a experiência que ganhou o prêmio Bapho Cultural no 7o Transforma, Festival de Cinema LGBT de Santa Catarina.
Mesmo diante de resistências pela forma de atuação e pelos temas abordados, a professora segue convicta da importância de sua proposta. “O prazer também é uma forma de saber. A produção de conhecimento não precisa ser sempre dolorosa. Pode ser prazerosa, coletiva, afetiva”, conclui ela.