“Eu não saberia dizer se houve, com a pandemia, um aprendizado social em especial, já que é possível constatar um modo de viver bastante preocupante, na atualidade, em termos de saúde mental, sobretudo relacionado com o consumo massivo de tecnologias digitais, com a permanência intensiva em mídias sociais, que empobrecem o contato humano e excitam exageradamente o sistema nervoso central, gerando desatenção, prejuízo na memória, irritabilidade, comprometimento da aprendizagem e da qualidade do sono.
Constata-se uma realidade de hiperutilização dos serviços de saúde mental, que precariza sua eficácia, além da impotência da Atenção Primária em Saúde para responder às demandas infindáveis de saúde mental, uma sobrecarga que compromete, inclusive, a organização de estratégias de promoção de saúde mental na coletividade.
A experiência da pandemia escancarou a precariedade de nosso sistema de saúde, de assistência social e de previdência para atender a população em casos de catástrofes, sobretudo em países em desenvolvimento, a exemplo do Brasil. Cabe esclarecer que os sintomas pós traumáticos podem se manifestar após muitos anos desde a experiência traumática, e que ao longo do tempo deveremos ter mais clareza a respeito do impacto da doença e da conjuntura de pandemia sobre a qualidade de vida, sobre a economia e sobre a sociedade.
Por outro lado, experiências traumáticas coletivas, como a pandemia, que causam comoção social, mobilizam as pessoas para a ajuda mútua, incitando movimentos que se organizam na sociedade com fins solidários. Os desafios para os sobreviventes desta tragédia global podem ser enfrentados com mais assertividade diante de apoios familiares, comunitários, institucionais, governamentais”, destaca Marcela.