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Programa de Pós-Graduação em Educação celebra primeiro mestre surdo

Rodrigo João Franchini considera sua conquista “um símbolo de inclusão e resistência”

Assessoria de Comunicação do Campus Chapecó — 26 de Novembro de 2025 — Atualizado em 26/11/2025

Programa de Pós-Graduação em Educação celebra primeiro mestre surdo

O Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da UFFS – Campus Chapecó viveu um marco histórico recentemente: a conclusão da dissertação de Rodrigo João Franchini, primeiro estudante surdo a ingressar e a diplomar-se mestre. A pesquisa, orientada pela professora Patrícia Gräff, analisa como as políticas educacionais brasileiras influenciam a forma como a surdez é entendida e como a escolarização de estudantes surdos é organizada. O estudo mostra que essas políticas ainda oscilam entre uma visão clínica da surdez e abordagens que a reconhecem como diferença linguística e cultural.

E não é somente o programa que comemora a conquista. “Carrego com imenso orgulho o marco de ser o primeiro acadêmico surdo a ingressar no PPGE, conquistando um espaço que representa não apenas uma vitória pessoal, mas um símbolo de inclusão e resistência”, celebra Rodrigo.

Partindo de suas vivências enquanto sujeito surdo, Rodrigo analisa legislações, documentos oficiais e discursos institucionais que influenciam a construção das “formas de vida surdas” no ambiente escolar. “Rodrigo traz em si o ativismo de um sujeito que quer contribuir para o avanço das condições da escolarização dos surdos”, ressalta a professora.

O trabalho revela que, apesar de avanços recentes, como a Lei 14.191/2021, que estabelece a Educação Bilíngue de Surdos, a realidade das escolas comuns continua pautada por uma lógica ouvinte, na qual a Libras aparece de forma limitada e quase sempre restrita ao trabalho do intérprete. Conforme a pesquisa, essa organização fragiliza o protagonismo dos estudantes surdos, reforça hierarquias linguísticas e mantém a surdez associada à deficiência, e não à diferença.

Para a professora Patrícia Gräff, a proposta de Rodrigo se destacou desde o processo seletivo, tanto pela força política da pergunta quanto pelo compromisso do agora mestre em contribuir para o avanço das condições de escolarização de surdos. Ela observa que discutir a surdez como diferença, e não como incapacidade, é decisivo para repensar práticas pedagógicas, ambientes escolares e responsabilidades éticas.

Patrícia destaca que os documentos analisados por Rodrigo evidenciam uma separação recorrente entre “deficiência auditiva” e “surdez”, distinção que determina trajetórias escolares e define os limites e possibilidades de aprendizagem desses sujeitos. “A manutenção de um tipo de discurso que insiste em posicionar a diferença no campo da incapacidade me parece um dos maiores desafios quando pensamos na educação inclusiva”, destaca ela.

O pesquisador frisa que mesmo em políticas consideradas inclusivas, a Libras costuma aparecer como apêndice, usada apenas por estudantes surdos com mediação do intérprete. O resultado é a manutenção da centralidade da oralização e das reivindicações do movimento surdo por escolas e classes bilíngues, nas quais a Libras seja, de fato, língua de instrução.



Trajetória acadêmica

A caminhada de Rodrigo no PPGE carrega também um sentido simbólico. Ele conta que, durante a escolarização básica, viveu isolamento em ambientes pensados para sujeitos ouvintes. Na graduação, encontrou pela primeira vez um espaço em que pôde se comunicar plenamente. Já no mestrado, enfrentou dificuldades relacionadas ao uso do português escrito, sua segunda língua, mas transformou esse desafio em potência analítica e política. “Ampliar a minha compreensão e entendimento sobre o indivíduo surdo – como eu – e sua percepção do mundo que o cerca foi a minha principal motivação para a realização deste mestrado”, revela Rodrigo.

Para Patrícia, o percurso de Rodrigo demonstra rigor, profundidade teórica e seriedade intelectual. Ela considera esta uma contribuição significativa para as pesquisas em Educação de Surdos e para o debate sobre políticas de inclusão escolar.

A dissertação também aborda a formação docente. Para Rodrigo, não basta garantir intérpretes: é necessário promover ambientes bilíngues, estimular a circulação da Libras entre todos os sujeitos escolares e incluir a língua na formação continuada de professores e no currículo da Educação Básica. Sem esse movimento duplo, a inclusão tende a permanecer restrita e mediada, bloqueando a participação plena de estudantes surdos. “Não é mais possível que sigamos estabelecendo padrões irreais de sujeito para orientar nossa atuação na escola”, reforça a professora Patrícia.

Rodrigo aponta que o percurso não se encerra com a defesa. “Após esta pesquisa, pretendo dar continuidade aos estudos sobre essa temática, dedicando especial atenção à região Sul do Brasil”, finaliza.


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