As Rodas de Quinta, os arraiais, o Halloween, o baile black e até um festival que adentrou a madrugada têm algo em comum: todos nasceram da inquietação de estudantes que sentiram falta de espaços de convivência, arte e cultura no dia a dia da UFFS – Campus Chapecó. Esse movimento espontâneo foi organizado e gerou o coletivo Fronteira Cultural. As ações foram ganhando corpo, se expandiram e integraram o projeto institucionalizado “Roda de Quinta – Atividades culturais com protagonismo estudantil”, em execução até março de 2026.
O estudante Yago Silva Souto Franco, um dos integrantes do coletivo, lembra que a organização começou de maneira dispersa, com pequenos saraus que surgiam conforme a vontade dos estudantes. “A gente já fazia as Rodas de Quinta: quem queria tocar ou recitar se reunia, íamos até o setor de eventos, pegávamos a caixa de som e montávamos algo”, conta.
O ponto de virada, conforme Yago, foi o JUFFS, quando o evento aconteceu no Campus Chapecó: os estudantes passaram a se articular como coletivo para pensar uma programação cultural mais intensa e interessante, convidando bandas, artistas, fotógrafos e estruturando um festival. A partir dessa experiência, o Fronteira Cultural se consolidou como coletivo estudantil e o projeto Roda de Quinta surgiu como elo institucional para dar sustentação às ações dentro da universidade.
Para a coordenadora do projeto, a técnica-administrativa em Educação Liziara Portella, a institucionalização foi um passo fundamental para que o trabalho ganhasse visibilidade. Além de registrar a ação de cultura no sistema Prisma, o projeto permitiu a concessão de bolsa para uma estudante, vinculou formalmente os participantes e garantiu certificação. “Os estudantes se mobilizaram muito, construíram conhecimento sobre caminhos institucionais e sobre produção cultural, o que garantiu que o esforço tivesse visibilidade, reconhecimento e registro oficial”, destaca. Segundo ela, o projeto dialoga diretamente com os princípios do Projeto Pedagógico Institucional da UFFS, ao valorizar a democracia, a autonomia discente, a diversidade cultural e o compromisso com uma universidade pública e popular.
Se, por um lado, o Fronteira Cultural se organiza como coletivo horizontal, aberto à entrada de novos integrantes e à circulação de ideias, por outro, o projeto Roda de Quinta ofereceu certo subsídio para que o protagonismo pudesse se traduzir ações contínuas. As Rodas de Quinta seguem como marca registrada: encontros culturais realizados preferencialmente no fim da tarde, em que estudantes apresentam música, poesia, rap, artes visuais e cênicas.
Para além dos saraus, o grupo passou a articular festivais de maior porte, como o arraial, o Halloween e o Baile Black, além de apoiar semanas temáticas e atividades de cursos que buscam integrar arte e formação acadêmica. Segundo Yago, a flexibilidade é uma escolha consciente: o coletivo evita fixar uma periodicidade rígida para não sobrecarregar voluntários e para assegurar eventos com proposta artística consistente, em vez de apenas disponibilizar uma caixa de som.
Um dos aspectos que mais se destaca na trajetória do Fronteira é a ocupação do campus como espaço público de convivência. Vindo de outra local do país, com outra percepção universitária, Yago lembra o estranhamento inicial ao perceber que, em Chapecó, muitas pessoas ainda se perguntam se podem entrar no Campus. “Em um dos eventos, metade do público era de fora da UFFS: pessoas que estudam em outras universidades, pessoas que tinham curiosidade de conhecer o lugar. Quando percebemos isso, entendemos que estávamos cumprindo um dos objetivos centrais, que é integrar a universidade com a sociedade”, relata. Liziara ainda destaca que essa abertura também se manifesta na presença de servidores terceirizados e familiares em eventos como o arraial, o que amplia a sensação de pertencimento e reforça a imagem da UFFS como espaço da cidade.
Yago aponta que, ao longo do percurso, o coletivo foi se profissionalizando sem perder a dimensão afetiva da experiência estudantil. Ele destaca que os integrantes aprenderam a lidar com normas de uso de espaço, segurança, logística de palco, som e iluminação, orçamento e parcerias. Participaram de capacitações em produção cultural, discutiram editais, leis de fomento, prestação de contas e documentação necessária para projetos culturais. “Do momento em que entrei no Fronteira em diante, eu passou a ter uma visão muito mais concreta de como funciona o serviço público por dentro. Aprendi a escrever projeto, a entender por que o certificado precisa estar vinculado a uma ação institucional, a negociar com setores e parceiros externos. Isso me formou como cidadão e como produtor cultural”, avalia Yago.
Para garantir que esse aprendizado não se perca com as formaturas dos membros, no decorrer dos anos, o coletivo investiu em gestão de conhecimento: contatos de parceiros, prestadores de serviço, fornecedores e artistas são organizados em pastas compartilhadas, com registros que permitem a continuidade das ações por novos grupos de estudantes. Liziara atua como suporte na interface com os setores administrativos, ajudando a sistematizar procedimentos e a manter o vínculo formal dos participantes ao projeto. Ao lado do professor Leonardo Rafael Santos Leitão, que assumiu a orientação vinculada à bolsa de cultura, ela acompanha de perto o amadurecimento do grupo e as possibilidades de desdobramentos institucionais.
Encaminhando-se para a conclusão em março de 2026, o projeto “Roda de Quinta – Atividades culturais com protagonismo estudantil” representa, de acordo com Yago, mais uma etapa de um processo em construção. A perspectiva é finalizar esta edição e submeter uma nova proposta em editais mais recentes de cultura, adequados às modalidades vigentes de fomento. Paralelamente, o Fronteira Cultural segue recebendo novos integrantes, especialmente estudantes em início de curso, e planejando futuras ocupações do Campus.