Os jogos de tabuleiro e de cartas acompanham a humanidade há milênios, refletindo culturas, estratégias e entretenimento e por que não despertam o interesse pela literatura? Foi com esse desafio que a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Realeza está transformando clássicos da literatura em experiências lúdicas por meio do Projeto Adamastor: Laboratório de criação de jogos literários. Os jogos desenvolvidos buscam incentivar a comunicação e ajudar a despertar a curiosidade pela leitura a partir da diversão e do desafio da jogabilidade.
Até o momento, o Projeto Adamastor criou seis jogos, sobre a poesia e as obras de escritores como Fernando Pessoa, Luiz de Camões, José Saramago e Judith Teixeira. O mais recente se chama Orixás e apresenta a mitologia Iorubá com a dinâmica de um jogo de tabuleiro e cartas. O professor que coordena o projeto, Saulo Gomes Thimóteo, fala como foi a experiência de transporte literatura em jogos: "Cada adaptação conta com um escritor ou obra ou aspecto cultural, a ser explorada, desenvolvida e sintetizada. Na sequência, buscamos dinâmicas de jogo que podem auxiliar na compreensão ou mesmo num diálogo que busca aliar a leitura com o entretenimento", detalhou.
O professor fala que uma das primeiras experiências a ser transformada em jogo de tabuleiro surgiu a partir do romance “O Cortiço”, do escritor brasileiro Aluísio Azevedo. O jogo leva o mesmo nome da obra e foi publicado em 2020, em parceria com a Editora IDEA. "Como professor de literatura, entendo que o melhor modo de estimular a leitura é despertar uma curiosidade. Se, por jogar esses jogos, alguém leia uma carta do jogo LudoPessoa e sinta interessantes os versos que lá estão e vão atrás de outros, ou então queira saber quem é esse tal de João Romão que construiu um cortiço cheio de gente e onde ocorrem rodas de samba e incêndios, o projeto já cumpriu seu papel", comentou Saulo.
O caráter lúdico e a oportunidade de descoberta cultural fazem dos jogos criados pelo Projeto Adamastor serem destinados aos mais diferentes públicos, desde crianças a adultos, conforme destaca o professor. “São jogos que podem ser jogados num momento de lazer, sem um pouco de preocupação escolar. Tanto que não é obrigatório a leitura dos textos de referência para que se possa jogar. A ideia que buscamos é que, quem conhece os livros, aproveitará os jogos para revisitar aquilo que conhece sob outra abordagem. E quem não conhece os livros, passa a conhecer através dos jogos e, quem sabe, se interessar por saber um mais sobre eles”, explicou Saulo.
Além disso, os jogos já foram testados com alunos de diversas escolas da região durante visitações à universidade pelo projeto UFFS Portas Abertas, assim como em algumas feiras escolares e, mais recentemente, com os alunos do Instituto Federal do Paraná (IFPR) – Campus Capanema. “Em todas essas graças aos participantes se interessaram, especialmente quem ganhou a partida”, destacou Saulo.