A Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) conquistou sua segunda patente verde. A nova invenção é uma solução sustentável capaz de identificar a presença de agrotóxicos em águas superficiais e subterrâneas. Desenvolvido nos laboratórios dos campi Realeza e Laranjeiras do Sul, o biossensor foi criado com materiais de baixo custo e poderá auxiliar no monitoramento da qualidade da água de forma rápida, acessível e sustentável.
O biossensor mantém como base a xantana, um biopolímero derivado da fermentação do milho, sendo adicionado sais de cobre e prata. Além disso, a fórmula incorpora outros polímeros naturais e sais como nitratos e acetatos, o que amplia a sensibilidade de reação. As pesquisas para o desenvolvimento do biossensor iniciaram em 2017 e foram conduzidas pelo Grupo de Pesquisa em Química Tecnológica e Ambiental (GPQTA) da UFFS que busca criar ferramentas e novas tecnologias voltadas para o meio ambiente.
O resultado é um biossensor capaz de identificar a presença de glifosato em água, um herbicida amplamente usado em cultivos no controle de ervas daninhas. “Ao entrar em contato com a água contaminada, o biossensor reage quimicamente, resultando em uma mudança visível na cor do material, o que permite a detecção a olho nu. Essa mudança na coloração acontece num período de tempo que pode variar entre três a cinco minutos”, detalhou a professora Gisele Louro Peres, umas das inventoras envolvidas na criação.
Ainda segundo Gisele, o biossensor desenvolvido pela UFFS é capaz de identificar concentrações mínimas de glifosato: apenas 0,01 parte por milhão (ppm) na água. Esse limite é 50 vezes menor do que o máximo permitido na água potável no Brasil, segundo normas do Ministério da Saúde, que é de 0,5 parte por milhão (ppm). “A tecnologia, portanto, funcionaria como um 'sinal de alerta' antecipado, permitindo ações antes que a contaminação atinja níveis críticos”, reforçou.
Um dos diferenciais é a composição do biossensor que utiliza materiais de baixo custo e biodegradáveis, o que de acordo com a técnica em química Edinéia Paula Sartori Schmitz, também inventora, poderia facilitar a produção em larga escala e também minimizaria os impactos ambientais. “Atualmente, a maioria dos biossensores disponíveis exige equipamentos adicionais, como sistemas complexos acoplados para monitoramento, frequentemente com base em sinais elétricos. Outro ponto forte do nosso biossensor é a resposta rápida, permitindo resultados mais eficientes e dinâmicos para o monitoramento de águas contaminadas”, destacou.
Por enquanto, o biossensor é focado na detecção do glifosato, porém o grupo ainda explora a adaptação para detectar outros agroquímicos e até outros contaminantes em alimentos, como fungos. “O diferencial do nosso biossensor se manteria, pois ele poderia ser adaptado para atender a esse mercado crescente, proporcionando uma ferramenta rápida e eficaz para garantir a qualidade e a segurança dos alimentos”, explicou o técnico em física Hudison Loch Haskel e Aline de Almeida, egressa do curso de Ciências Biológicas da UFFS, inventores da tecnologia.
Mesmo com a viabilidade comprovada, o biossensor ainda precisa de investimentos para chegar ao mercado. “A pesquisa desenvolvida e a patente demonstraram a viabilidade da tecnologia, mas ainda é necessário otimizar um formato adequado para sua aplicação, seja um kit de teste, tiras reagentes ou outro dispositivo prático”, disse Gisele Louro Peres explicando ainda que o uso mais promissor do biossensor está na análise de qualidade da água em propriedades agrícolas, assim como no monitoramento de contaminação em fontes naturais e apoio a órgãos ambientais na fiscalização de resíduos de agroquímicos.