Pesquisadores de todo o país terão acesso, em breve, a um acervo de materiais históricos da região Oeste de Santa Catarina. O Centro de Memória Histórico-Territorial da Fronteira Sul (CEMHITE) disponibilizará, para pesquisas, materiais originais da unidade da autarquia de Chapecó do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
A doação dos materiais originais ocorreu ainda em 2024, por meio de um Acordo de Cooperação Técnica. O acervo histórico e geográfico abrange documentos fundiários e cartográficos de 82 municípios do Oeste catarinense.
Com a seleção de cinco bolsistas e de uma consultora técnica para atuar no CEMHITE, o grupo, composto também por professores coordenadores, avança no tratamento e organização do acervo histórico. Desde abril, a equipe realiza a higienização, a estabilização e o inventário dos documentos, etapas necessárias para garantir a integridade do material. Após a finalização deste trabalho, o CEMHITE abrirá a consulta presencial e virtual ao público interessado.
Instalado na sala 214 do prédio da Biblioteca, o CEMHITE realiza o tratamento técnico do acervo, uma atividade que exige conhecimento técnico, paciência e muito cuidado: a limpeza, retirada de clipes e grampos, substituição de pastas inadequadas e colocação em caixas de polionda. “As atividades são voltadas a prolongar a vida útil da documentação. Primeiro estabilizamos e inventariamos; depois avançamos para a conservação curativa, com a intervenção mínima para reintegrar documentos rasgados e melhorar a legibilidade”, explica a consultora técnica do CEMHITE, Victoria Artigas Pause.
Em paralelo, a equipe executa, desde o primeiro semestre de 2025, o inventário e diagnóstico das tipologias documentais, que registra item a item, para as pesquisas futuras. “Queremos garantir as melhores condições para recepção de pesquisadores e interessados”, frisa o professor Émerson Neves da Silva, que está à frente do centro.
Ele aponta que o CEMHITE também planeja oficinas sobre preservação do patrimônio e história agrária da região. A adequação do espaço, com a ampliação da área e instalação de mobiliário técnico (como mapotecas e armários adequados), é outro passo que está no cronograma da equipe.
O conjunto de documentos reúne cerca de 15 mil processos de regularização fundiária, aerofotos e um acervo cartográfico expressivo, com aproximadamente 1,2 mil mapas originais feitos a nanquim. Parte da documentação já está digitalizada. “Não é só a informação que importa, mas o valor do documento original. São vias únicas, uma preciosidade histórica. Estamos dando uma contribuição decisiva para a preservação da memória territorial da região”, destaca o professor Ederson do Nascimento.
Segundo o professor Émerson, o acesso de pesquisadores de qualquer lugar ao acervo online pode projetar o Campus a uma rede nacional e internacional de pesquisa fundiária e agrária. Ele ressalta que a promoção do resgate da história da constituição territorial do Oeste catarinense, especialmente em relação à colonização e ao acesso à terra, é matéria-prima para as pesquisas em diversas áreas, com destaque para a História, a Geografia e as Ciências Sociais.
Além do impacto para a região, os estudantes bolsistas também sentem a repercussão do trabalho em si mesmos. “Estar em contato constante com as fontes, aprender higienização e inventário e conhecer a história da região é muito importante para nossa formação. Com o que vamos encontrando também vamos compreendendo como essa região se forma”, comenta Stephanie Neckel, uma das bolsistas.
Pesquisa, ensino e extensão
O CEMHITE nasce como referência regional para estudos sobre formação histórica do território, colonização, conflitos e regularização fundiária, enriquecendo pesquisas de graduação, especialmente dos cursos de História, Geografia e Ciências Sociais, além da pós-graduação, nos mestrados e doutorados. O professor Ederson ressalta que será possível, por exemplo, comparar ocupações dos anos 1960, 1970 e 1980, e traçar a evolução da posse e propriedade da terra a partir da cartografia histórica.
“O Centro conecta pesquisa, ensino e extensão: abre frentes para TCCs, dissertações, teses e atividades formativas com estudantes e escolas”, complementa a professora Lídia Antongiovanni.
O CEMHITE é uma das ações contempladas com o recurso de cerca de R$ 1 milhão, que também envolve georreferenciamento e diagnóstico da realidade agrária regional.
Articulada ao Centro, a UFFS ofertará, em parceria com a Unoesc, uma especialização em Direito Fundiário destinada a servidores do Incra de todo o país. O curso terá etapas em Chapecó e Brasília, e duração estimada de 18 meses. “É uma forma de qualificar o serviço público em escala nacional e, ao mesmo tempo, projetar o Campus nessa agenda estratégica da regularização fundiária”, finaliza o professor Emerson.
