Em 19 de abril é celebrado o Dia dos Povos Indígenas. A proximidade da data é uma boa oportunidade para falarmos um pouco sobre os projetos de pesquisa e extensão desenvolvidos pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), que têm como público-alvo as comunidades indígenas. Hoje abordaremos um projeto de extensão multicampi, que integra a Ação Saberes Indígenas na Escola (ASIE), criada pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi), vinculada ao Ministério da Educação (MEC). Ao todo, 51 instituições federais de ensino superior do Brasil participam da ASIE, que busca promover a formação continuada de professores em educação escolar indígena.
De acordo com a coordenadora do projeto de extensão na UFFS, Solange Todero Von Onçay, a Universidade entrou na ação nacional pelo convite da Rede ASIE de Mato Grosso do Sul, que integra os Povos do Pantanal e do Cone Sul, com o objetivo de desenvolver as atividades do projeto com os povos Guarani (Kaiowá, Ñandeva e Mbyá). A Universidade passou, assim, a compor uma rede que já atua há mais de dez anos junto às comunidades Guarani no Território Etnoeducacional Cone Sul.
A principal ação desenvolvida pelo projeto de extensão da UFFS, em 2024, foi a formação de 80 professores indígenas (lideranças educacionais), para a coordenação de ações escolares na perspectiva da autonomia e da autodeterminação, sobretudo com a intenção de valorizar a língua, a cultura e a ciência presentes na sabedoria indígena. O trabalho desenvolvido partiu da escuta dos indígenas a respeito de sua concepção de escola.
Conforme Solange, “percebemos, a partir do diálogo, a necessidade deste aproximar entre as vivências, as sabedorias, do que está presente na língua, na própria língua materna, na linguagem oral, na espiritualidade desses povos, na dimensão cultural e na concepção de mundo e de vida. A partir desse movimento, inspirados nas referências de Paulo Freire, nós fomos fazendo esse diálogo, aproximando todas essas vivências, essa sabedoria, compreendendo esse alargamento de concepção de conhecimento, onde tem presente uma espiritualidade, uma cosmologia, elementos naturais, um mundo de sabedorias ancestrais, que a escola, a educação escolar indígena, precisa reconhecer e aproximar, no sentido de sobre isso produzir um diálogo com o conhecimento científico”.
Por meio do projeto da UFFS, foram atendidas comunidades nas regiões dos municípios de Inácio Martins, Mangueirinha e Nova Laranjeiras, no Paraná, Araquari, Chapecó, Garuva, Jaraguá do Sul, São Francisco do Sul e Xanxerê, em Santa Catarina, e Cerro Largo, no Rio Grande do Sul. Participaram da formação docentes da UFFS dos campi de Chapecó, Cerro Largo, Erechim e Laranjeiras do Sul, além de professores formadores indígenas.
As ações do projeto em 2024 foram coordenadas pelo professor Cristiano Durat, do Campus Laranjeiras do Sul e, na sequência, a partir do mês de dezembro, pela professora Solange. A previsão é, neste ano, dobrar o número de cursistas, atendendo até 160 professores indígenas. Solange explica que a proposta é dar sequência ao trabalho realizado com os cursistas de 2024 (professores guaranis das séries iniciais que desejarem e que tenham matrículas ativa em escolas municipais ou estaduais) e ampliar para séries finais do ensino fundamental e médio, em havendo escolas nas aldeias.